DNA dá pista para tratamento de câncer de mama difícil de superar
O pesquisador foi o primeiro a apontar a associação do gene ligado à produção da proteína no organismo, o FGFR1, e um tipo de câncer de mama. Células tumorais mamárias que possuem muitas cópias desse gene produzem em excesso um tipo de proteína contra a qual os cientistas já estão testando drogas. Essa molécula-alvo, chamada receptor de tirosinoquinase, atua na divisão celular.
"Ela é como um suprimento de energia fundamental para as células tumorais continuarem crescendo e se dividindo", disse Reis-Filho à Folha. Usando uma cultura de células tumorais em laboratório, ele provou que há ligação entre uma maior presença de cópias do gene e a prevalência do tumor. "Quando bloqueamos o FGFR1, as células tumorais morreram."
Reis-Filho diz que dentro de dois anos já será possível iniciar os testes clínicos do tratamento em pacientes humanas, usando uma droga semelhante à aplicada no experimento.
Doença diversificada
Pode parecer paradoxal, mas o brasileiro descobriu esse alvo promissor para tratamentos abrangentes do câncer de mama justamente por restringir seu objeto de pesquisa. "O câncer de mama não é uma única doença", explica Reis-Filho. "A última classificação da OMS reconhece pelo menos 17 tipos de câncer de mama."
O grupo do Centro Breakthrough chegou ao gene FGFR1 depois de concentrar seus trabalhos em apenas um tipo de tumor, chamado carcinoma lobular, que se origina nas glândulas produtoras de leite.
"Com esse estudo, vimos que células de cerca de metade dos carcinomas lobulares apresentavam um número elevado de cópias do FGFR1, enquanto as células normais adjacentes tinham apenas duas cópias", diz. Após uma investigação mais abrangente, porém, Reis-Filho descobriu que o mesmo gene tem uma parcela de culpa em diversos outros cânceres de mama.
Após os testes clínicos vai ser possível dizer se será eficaz o tratamento com uma droga que bloqueie a proteína expressa pelo gene. Se tudo der certo, o FGFR1 deve se tornar o segundo alvo de grande abrangência para tratamento do câncer de mama, atrás do gene HER2, que cobre 15% das variedades.
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