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Economia
Quinta - 14 de Dezembro de 2006 às 09:25

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Em reuniões reservadas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já admite o não-cumprimento em 2007 da anunciada meta anual de crescimento de 5% do PIB (Produto Interno Bruto). O novo número com o qual o Planalto trabalha é 4% --meio ponto percentual acima das projeções do mercado financeiro. Lula, porém, não deverá citá-lo publicamente nem admitir o recuo.

O presidente pretende adotar em público a partir de agora um discurso que não cita números. A Folha apurou que Lula considera ter caído numa armadilha que ele próprio criou quando divulgou a meta de 5% no dia da reeleição (29 de outubro) e logo depois prometeu pacote desenvolvimentista para o segundo mandato.

O presidente sinaliza que as medidas em estudo não devem alterar muito a política econômica adotada desde 2003. Logo após a reeleição, passou a cobrar "mais criatividade e ousadia" da equipe econômica. Agora "caiu a ficha", disse à Folha um auxiliar direto de Lula.

Nas últimas semanas, órgãos públicos, bancos e institutos privados distribuíram previsões dizendo que seria muito difícil, improvável até, um crescimento de 5% em 2007.

O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada) divulgou após o segundo turno um estudo em que apontava dificuldades para o Brasil crescer no ritmo defendido pelo presidente. Ligado ao Ministério do Planejamento, o Ipea avaliou que o baixo nível de investimentos e dúvidas quanto à capacidade de fornecimento de energia impediriam "expansão sustentada muito acima de 3,5% ao ano".

As últimas reuniões com os auxiliares, nas quais foram listadas os entraves a uma expansão mais forte, também contribuíram para convencer Lula a mudar de idéia. Ele ouviu de conselheiros econômicos com os quais se reuniu em segredo que deveria desembarcar especialmente dos 5%, pois sinalizaria um afrouxamento fiscal que produziria turbulências.

Oficialmente, Lula manterá o discurso de que precisa "destravar" o crescimento e, para isso, buscará aumentar investimentos em infra-estrutura.

Ou seja, o presidente teria entendido que, se fixar um crescimento de 5% a qualquer custo, poderá ter menores taxas nos anos seguintes e uma fragilidade fiscal que poderia comprometer o final do segundo mandato. Segundo auxiliares, a atual crise da aviação assustou Lula, mostrando que os gargalos de infra-estrutura são maiores do que imaginava.

Há duas semanas, em reunião com governadores, Lula contou que a meta de 5% precisaria ser atingida para que não perdesse cacife político, pois as sucessivas previsões de aceleração econômica feitas pelo Planalto não se concretizaram.

O "espetáculo de crescimento" prometido em 2003 não se confirmaram no primeiro mandato --os três primeiros anos fecharam com média de 2,5% de crescimento.

As estimativas de 2005 também erraram feio o alvo. Lula e o ministro Guido Mantega (Fazenda) previram taxas de 4%, 4,5% e até 5% para 2006. No entanto, o PIB não deverá passar de 3%.

Lula aposta que em 2007 o país terá crescimento superior ao de 2006 por avaliar que o Banco Central manterá a queda gradual dos juros. Pretende também adotar medidas que, mesmo com limitações, conseguiriam elevar o baixo nível de investimento público.

Isso permitiria, na visão dele, um crescimento da economia na casa dos 4% em 2007, número que poderia ser reproduzido no ano seguinte.

A avaliação mais realista de Lula ficou clara na reunião de anteontem com sua equipe para discutir infra-estrutura. No encontro, por exemplo, foi mencionado o temor do empresariado em relação à possibilidade de falta de energia a partir de 2010 ou 2011. Na dúvida, as empresas seguram investimentos, o que já afeta a economia no curto prazo.

Lula disse que, se o empresariado tem dúvida em relação ao fornecimento de energia no futuro, cabe ao governo esclarecê-la. Ou deixa claro que confia na atual montagem do setor elétrico e banca isso publicamente ou admite que haverá problemas e busca saídas para evitar um apagão no futuro.

Na reunião, Lula disse compreender as dificuldades do setor público para acelerar investimentos, mas pediu "esforços" a todos. Reclamou da falta de planejamento de órgãos do governo, o que teria sido, em suas palavras, uma marca do primeiro mandato.

Para suprir essa deficiência, pediu aos ministros presentes que separem recursos do Orçamento para projetos de investimento. De acordo com Lula, mesmo que não seja possível atender a todos os projetos em 2007, eles já estariam prontos para o momento em que houver disponibilidade de recursos privados.





Fonte: Folha de S. Paulo

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