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Terça - 12 de Dezembro de 2006 às 10:55

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São Paulo - Imaginar a história da TV das últimas quatro décadas do País sem a Rede Globo seria o mesmo que falar sobre os craques do futebol e deixar Pelé de fora. Exageros a parte, quem aqui cresceu sem ouvir o “boa noite” do senhor de cabelos grisalhos e terno impecável, que atire a primeira pedra. Ou desligue o televisor. Cid Moreira, com seu tom de voz inconfundível, repetiu o cumprimento por mais de 8 mil vezes durante os 27 anos em que ocupou a bancada do Jornal Nacional, hoje, composta pelo casal William Bonner e Fátima Bernardes.

Para reunir números como estes, histórias de programas e personagens que marcaram épocas e curiosidades de bastidores, que talvez nunca tenham passado para o outro lado da telinha, o jornalista Marcel Souto Maior, com o apoio de pesquisa da equipe Memória Globo, lança o Almanaque da TV Globo (Editora Globo, R$ 52).

Entre fotografias e dados, as 512 páginas detalham a trajetória da emissora de Roberto Marinho, desde a sua inauguração, em 26 de abril de 1965, até a era dos reality shows e das danças no gelo do Domingão do Faustão.

Foram sete anos de pesquisa e mais de 400 entrevistas com funcionários, ex-funcionários e colaboradores de empresas das Organizações Globo. Na equipe, historiadores, antropólogos, sociólogos e jornalistas foram responsáveis por vasculhar todo o acervo sobre a TV Globo, dentro e fora da emissora. “Escrito com leveza e bom humor, o livro é uma espécie de álbum de recordações. Organizado por décadas, ano a ano, ele destaca as principais estréias em cada fase da programação e reúne personagens e cenas inesquecíveis, que fazem parte da memória afetiva de milhões de telespectadores”, ressalta o autor.

Quem viu, em preto-e-branco, Senor Abravanel - mais conhecido como Silvio Santos - na tela da Globo? Isso mesmo, na Globo. O futuro proprietário do SBT alugava horário na TV Paulista, aos domingos, quando Roberto Marinho comprou o canal, em 1965. Silvio continuou com seu show e, em 1969, o Programa Silvio Santos passaria a ser transmitido ao vivo também para o Rio de Janeiro.

No ano de 1972, o mundo preto-e-branco ganhou o fascínio da TV em cores. Os uniformes dos jogadores de futebol, as roupas de Chacrinha e os contornos de Regina Duarte tornaram-me mais nítidos para os poucos privilegiados que possuíam o aparelho na época.

Para os menos favorecidos, um consolo: cobrir a tela do televisor com um plástico transparente, com faixas verticais coloridas. “Em dez anos, o Brasil passaria a ter 10 milhões de televisores em cores”, afirma o escritor.

Faz 33 anos que Paulo Gracindo, no papel de Odorico Paraguaçu, subia no palanque para discursar para o “povo de Sucupira”, em O Bem-Amado, de Dias Gomes, a primeira telenovela gravada em cores no Brasil. Parece que foi outro dia que ouvíamos Gracindo dizer: “Vamos botar de lado os entretanto e partir pros finalmente”.

As telenovelas e seus bordões marcaram épocas e continuam ditando modismos e expressões que, em poucos capítulos, são assimilados por milhões de brasileiros espelhados pelos cantos mais distantes do País. Muito antes do surgimento da internet, a televisão já ultrapassava fronteiras e unia culturas distintas em todo o País.

Nem só de glórias vive a Globo

Em quatro décadas a TV Globo se tornaria uma paixão para grande parte dos telespectadores. Para outros, a emissora se transformou em uma vilã, manipuladora das massas e de governos, capaz de utilizar sua programação e seus programas jornalísticos em função de seus interesses. O título negativo não foi mérito apenas da paixão por falar mal da “líder de audiência”, mas também de fatos reais que mancharam a trajetória de idoneidade do canal.

Na história da emissora, alguns episódios mais polêmicos acabaram não entrando no livro. Há muito tempo especula-se sobre o poder de escolha de ministros por Roberto Marinho durante o regime militar, uma postura indiferente da emissora diante das greves do ABC paulista nos anos 1980 e até a cobertura da Globo das campanhas pelas eleições diretas em 1984.

Uma edição que pegou mal

Mas o episódio mais polêmico, que também ficou de fora, é o que trata da campanha eleitoral de 1989, considerado uma marca (negativa) no telejornalismo brasileiro. No debate entre os candidatos à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Melo, transmitido pela Globo, uma edição tendenciosa a favor de Collor teria feito com que o candidato de Alagoas subisse vários pontos no Ibope.

Nem tudo a ver

1. O ‘Plim, Plim’ foi criado em 1971 para marcar a passagem de ida e volta dos comerciais e facilitar o trabalho das praças que colocavam a Globo no ar em outros Estados. Antes, a entrada dos intervalos era sincronizada pelo telefone, um verdadeiro risco.

2. Chico Anysio estreou em 1973, no ‘Chico City’, com dez tipos diferentes. Até hoje, o humorista já criou mais de 200 personagens.

3. Foi em 1974, com ‘Calhambeque’ e ‘Eu te proponho’ que Roberto Carlos deu início aos especiais de Natal que conduz, desde então, anualmente. Com exceção de 1999.

4. O designer austríaco, Hans Donner, criou o logotipo da TV Globo, em 1976, em um pedaço de guardanapo, durante o vôo que o traria para trabalhar no Brasil.

5. Dez anos antes de ser exibida, em 1985, ‘Roque Santeiro’, com Lima Duarte (Sinhozinho Malta) e Regina Duarte (Viúva Porcina) sofreu censura às vésperas de sua estréia, quando os papéis pertenciam a Francisco Cuoco e Betty Faria.





Fonte: Agência de Notícias

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