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Governo do Irã fecha cerco contra artes e imprensa
São Paulo - O diretor de cinema e escritor iraniano Ebrahim Golestan não se surpreendeu quando seu livro The Cock (O Galo) entrou este mês para a lista de obras proibidas na recente onda de censura promovida pelo governo do Irã. 'Já tive tantos trabalhos censurados que não é nenhuma surpresa', afirmou por telefone, de sua casa em Londres, onde mora desde a década de 70.
A nova lista de proibições divulgada pelo Ministério da Cultura é extensa e inclui o best-seller O Código Da Vinci, de Dan Brown, o clássico Na Minha Morte, do vencedor do prêmio Nobel William Faulkner, livros de vários autores iranianos e publicações que continham letras de músicas dos Beatles, Rolling Stones, The Doors e Guns n' Roses.
A censura às artes e à imprensa faz parte da realidade do Irã desde a Revolução Islâmica de 1979, quando o país se tornou um Estado teocrático e os meios de expressão passaram a ser regidos pela Lei Islâmica. O controle é feito por líderes religiosos, mas o nível de repressão tem oscilado nas últimas décadas, segundo os interesses do governo.
A atual ampliação das restrições ocorre depois de oito anos de relativo relaxamento, durante o período em que o país foi dirigido pelo reformista Mohammed Khatami (1997 - 2005). Ela é promovida pelo ministro da cultura, Mohammed Hossein Saffar Harandi, considerado um linha-dura e aliado próximo do presidente Mahmud Ahmadinejad. Hoje, o Irã é considerado a 7ª nação pior do mundo em relação à liberdade de imprensa pela organização Repórteres Sem Fronteiras. Ele ocupa o 162º lugar no ranking de 168 países avaliados pelo grupo.
Para Golestan, porém, as oscilações periódicas não alteram o quadro geral da falta de liberdade, que o levou a se radicar no Reino Unido. 'Um filme meu foi tirado dos cinemas no fim da década de 70, então resolvi sair do país. Isso foi 5 anos antes da Revolução Islâmica', conta o iraniano. 'O problema foi sempre esse: lá eu não teria liberdade para me expressar'.
Imagens
O editor-assistente de fotografia do jornal O Estado de S. Paulo, Armando Favaro, sentiu na pele a censura do governo iraniano na cobertura jornalística que fez em abril e maio deste ano. Acostumado aos padrões brasileiros, estranhou ao perceber que nenhum outro fotógrafo ou cinegrafista registrou o protesto de um jovem durante o discurso do ex-presidente Hashemi Rafsanjani. Todos já estavam cientes dos procedimentos de repressão à imprensa. 'Ao notar que ninguém mais registrou a cena, chamei o repórter Lourival Sant'Anna e entreguei a ele o cartão fotográfico com as imagens', conta Favaro.
Depois do sermão, as autoridades locais detiveram por cerca de uma hora todos os profissionais de imagens e os obrigaram a mostrar o que haviam gravado do evento. Favaro só conseguiu ser liberado e publicar a foto porque o cartão com as imagens do manifestante já não estava com ele.
Fonte:
Agência de Notícias
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/255044/visualizar/
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