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Internacional
Domingo - 10 de Dezembro de 2006 às 09:14

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As divergências entre os líderes ficaram claras quando o venezuelano Hugo Chávez e o uruguaio Tabaré Vazquez concordaram ao afirmar que a região "não tem projeto" de integração. Antes, o presidente peruano, Alan García, criticou o que chamou de caráter "economicista" das propostas comuns.

"Não aceito em hipótese em alguma a negação das coisas que já fizemos", afirmou Lula, que durante a cúpula tentou avançar a integração energética e de infra-estrutura da América do Sul.

Além dessas metas, a declaração final do encontro prega o desenvolvimento de mecanismos financeiros "compatíveis com as condições políticas e econômicas" específicas de cada país.

O documento institui a chamada Comissão de Altos Funcionários para assegurar a implementação das decisões presidenciais e ministeriais. O órgão, a funcionar inicialmente no Rio de Janeiro, estabelecerá grupos de trabalho para as áreas prioritárias de integração (infra-estrutura, energia e políticas sociais).

O estabelecimento da Comissão atende à preocupação de líderes sul-americanos, expressa por Lula no discurso de abertura da cúpula, de que muitos compromissos assumidos nas reuniões acabam não sendo cumpridos.

Outra idéia defendida pelo presidente e endossada pela declaração final é a realização de uma cúpula presidencial de integração energética, marcada para 2007 na Venezuela.

Ficou definido ainda que a próxima reunião de cúpula da Casa será em Cartagena, na Colômbia.

Divergências

Mas foi o tom de divergência que marcou o último dia da cúpula. O presidente do Peru, Alan Garcia, criticou o fato de o documento final do encontro não conter "uma só palavra sobre educação".

"A educação é o instrumento central (de integração), não é a infra-estrutura. A integração, as conexões elétricas, tudo isto é importante, mas enquanto as escolas primárias não professarem a integração, tudo está perdido", ele afirmou.

Garcia considerou negativo o tom "economicista" do documento.

Já os presidentes uruguaio, Tabaré Vazquez, e venezuelano, Hugo Chávez, disseram que a região "não tem projeto" comum.

"Aqui estamos falando de integração como se o tema em si mesmo fosse o mais importante. É apenas uma ferramenta para alcançar um objetivo. (Mas) se não temos um projeto comum, falar de integração vai se perder em um marasmo de discursos e boas intenções que poucas vezes alcançam o objetivo que nos colocamos", disparou Vazquez.

Depois o venezuelano Hugo Chávez tomou a palavra, agradecendo a "sacudida" na discussão dada pelos colegas.

"Era hora de sacudir esta mesa. Há oito anos escuto o mesmo discurso, com variantes. Uma vez disse que vamos de cúpula em cúpula, e nossos povos, de abismo a abismo", afirmou Chávez, para quem grande parte dos discursos integracionistas "cheira a morfina".

"Tabaré, você dizia grandes verdades, Alan disse, todos disseram. Michelle, você dizia há pouco tempo, não há projeto, não sabemos aonde vamos. Lula, ouvi quando você falava de globalização: a globalização para mim é um desastre, é apenas a tese mais acabada do imperialismo unipolar desde a queda da União Soviética", disse o presidente venezuelano, dirigindo-se a seus colegas.

Recentemente, a Venezuela abandonou a Comunidade Andina e ingressou no Mercosul, mas Chávez criticou os dois blocos.

"Creio que a CAN, com todo respeito, não serve, sou obrigado a dizer. Tampouco acho que o Mercosul. Não são instrumentos adequados para as necessidades, são instrumentos para a elite. Se ocorrer uma convergência entre as instituições da CAN e do Mercosul, estarão convergindo duas instituições que não servem", declarou Chávez.

"Algo está morrendo, e não termina de morrer. Algo está nascendo e não acaba de nascer. O que temos de fazer é enterrar o que deve morrer, e parir o que tem de nascer."

"Ou reformamos o Mercosul e fazemos um novo ou também o Mercosul se acabar."

Resposta

Chávez já havia ameaçado não assinar a declaração final da 1a Cúpula da Casa realizada em Brasília no ano passado, por considerar os termos do texto muito vagos. Teria sido dissuadido do boicote por Lula.

O presidente brasileiro rebateu as críticas do venezuelano, afirmando: "Nós temos tudo para lamentar que não estamos fazemos tudo que deveríamos fazer, mas não temos o direito de não reconhecer que nós construímos um novo patamar político nesse continente".

O presidente disse não "querer tirar o direito de ninguém" expressar indignação com a lentidão do processo de integração, mas sustentou que tanto ele como Chávez – os dois líderes mais “velhos” da região - estão há muito pouco tempo no poder para reverter os moldes de integração que, segundo ele, vigoravam até uma década atrás.

"A coisa mais importante era saber quem era mais amigo do presidente americano. Era saber se era (o ex-presidente argentino Carlos) Menem ou se era Fernando Henrique Cardoso seria convidado para ir a Camp David (casa de campo do presidente americano)."

Lula propôs duas reuniões para discutir integração nos setores energético e aéreo. “Não existe política sem contato pessoal”, afirmou o presidente.

"Não tenho direito, como o presidente de um país, de faltar a uma reunião que, se não der nenhum fruto, só pelo fato de eu conviver com vocês já vale a pena", disse Lula.

Depois da reunião, o presidente brasileiro regressou a Brasília, enquanto Chávez seguiu para a Cúpula Social, evento paralelo que, assim como o oficial, termina neste sábado em Cochabamba.





Fonte: BBC Brasil

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