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Nacional
Quinta - 07 de Dezembro de 2006 às 07:47
Por: Onofre Ribeiro

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Há dois anos, nesta data, meu filho Marcelo, aos 29 anos, nos deixava, vítima de um acidente de moto em Salvador. Mas nos deixou a esposa Daniela e o filho Luka, na época com 3 anos.

Nesses dois anos tivemos tempo para muitas reflexões. Para as lágrimas também. Muitas lágrimas. Mas, junto, algumas certezas. Outros pais também passaram por isso e pudemos oferecer-lhes uma palavra de conforto. Compreendemos que Marcelo, ao seu modo, viveu muito mais do que minha mulher Carmem e eu, ambos com o dobro de sua idade.Ele sempre foi muito intenso. Vivia como se o mundo girasse mais depressa só para ele. Tivemos tantas discussões por isso, mas ele acabou vencendo o seu tempo na sua própria velocidade.

Quando nos lembramos que ele partiu instantaneamente no acidente naquele começo de noite de 7 de dezembro de 2004, e vemos tantos outros pais que padeceram esperas nas UTIs dos hospitais por meses seguidos alimentando esperanças que só os pais conseguem alimentar, minha família se conforta. Poderia ter sido mais difícil!

Nesses dois anos, meus filhos André, Fábio e Tiago, junto com Carmem e eu, tivemos momentos de grande tristeza. Mas rimos muito das palhaçadas do Luka, e da sua incrível semelhança com o gênio do pai. Vimos Daniela, levantar-se como gigante e segurar a sua vida e a de Luka com firmeza, apesar das lágrimas e da saudade. Sobreviveu à perda, como sobrevivemos todos da família.

Lições de ganhos não foram poucas. A extrema solidariedade que tivemos nesses dois anos, os abraços carinhosos de incontáveis pessoas amigas, assim como a imensa fraternidade imbuída do mais verdadeiro carinho.

Gostaria de dirigir este artigo especialmente aos pais e mães que também tiveram filhos levados da vida. Há muito por aprender com a partida deles, como revermos as nossas vidas, os nossos valores e compreendermos que a vida age como uma roda que segue para a frente.

Sabemos que Marcelo está bem. Nós estamos razoavelmente bem. O tempo, nesses casos, não conta em horas, em dias e meses. Conta-se pela duração das lembranças. Elas são muito difíceis de apagar, ainda que nós não as fiquemos escarafunchando todos os dias. Elas vão e vêm. Tem dias em que elas parecem precisar da gente. Tem dias que elas somem.

Perdemos o convívio, com a partida do Marcelo. Mas ganhamos com novos enfoques para a vida e com o carinho, a solidariedade e a fraternidade que recebemos e continuamos recebendo espontaneamente. Carmem tem rezado mais do que eu. Vez ou outra, me pego chorando ou entristecido. Lá no coração sei que Marcelo está se encontrando, porque é do seu temperamento e personalidade avançar. Pai sente essas coisas. Carmem sente a mesma coisa. Luka entrou na fase de perguntar como era o pai e a relação entre ambos. Não creio que Marcelo fosse perder isso, ousado como era. Deve rir das perguntas do filho. Ou, quem sabe, se emocionar, como nós que ficamos por aqui e nos lembramos da suas próprias traquinagens da infância. Continuamos juntos, Marcelo!

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM





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