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Nacional
Terça - 05 de Dezembro de 2006 às 08:27

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Damasceno afirma que o livro "João Cândido, o Almirante Negro", publicado pelo Museu da Imagem e do Som (MIS) em 1999, colocou a foto errada na capa. Com isso, segundo o juiz, desencadeou equívocos, e cita como exemplo o livro didático "A Revolta da Chibata", de Maria Inês Roland, publicado pela Editora Saraiva, em 2000.

"Foi um erro muito grave. Você não troca a foto de Getúlio Vargas ou do Marechal Floriano. Mas dos excluídos, filhos de ex-escravos, qualquer foto serve", critica.

Risco histórico Segundo Damasceno, João Cândido, apesar de homem simples, sabia da importância de sua atitude, ao assumir o comando do "Minas Gerais", maior navio da época. "Nós corremos o risco de deixar para o futuro uma história falseada, como acontece aos montes por aí com outros fatos. João Cândido é um herói popular da história. Um feito inigualável que foi reconhecido pelos marinheiros da época que passaram a ter mais direitos. Merece o respeito que um personagem histórico tem direito", justificou.

Uma das preocupações em começar a corrigir o erro, segundo o juiz, é o fato de que a foto errada sofreu tratamento e, por isso, acabou se popularizando. O marujo que se passa por Cândido é o imediato do comandante Manoel Gregório, que tomou o encouraçado "São Paulo" durante a Revolta das Chibatas.

Além do erro gráfico, Damasceno alerta para outras injustiças em relação aos personagens de 1910. "A República é recheada de intervenções militares. Todos foram anistiados, menos os de dois movimentos: a Revolta da Chibata e o Levante Comunista, de 1935.

Candinho confirma a denúncia do juiz e afirma que ficou sabendo do erro, logo após a publicação do livro. Ele conta que chegou a comentar com profissionais do MIS, que teriam ficado de corrigir as fotos. "Mas até hoje não foi reparado o erro. Eles tinham diversas fotos verdadeiras dele, que também usaram no livro", lamenta ele, acrescentando que, com o auxílio de uma lupa, conseguiu ver o nome do homem da foto errada. "Se não me engano, se chamava Avelino", disse.

A pesquisadora Marília Trindade Barbosa da Silva, que presidia o MIS na época, rebate as acusações, dizendo que não houve falta de empenho nas pesquisas e, muito menos, discriminação por ser uma figura popular. Ela disse que acha estranho isso surgir agora, já que Candinho e a irmã teriam acompanhado o trabalho e em momento algum disseram que a foto estava errada. "Já fiz a biografia de Pixinguinha, Cartola e Carlos Cachaça. Nossa equipe teve empenho total", disse.

A assessoria de imprensa da Saraiva informou que a editora não tinha conhecimento de que a foto estava errada e que vai entrar em contato com Candinho. A empresa se comprometeu a corrigir o erro na próxima edição do livro, que ainda estaria na primeira edição.

Revolta A Revolta da Chibata foi um levante ocorrido em 1910, em que dois mil marinheiros, liderados pelo gaúcho João Cândido, reivindicavam do presidente recém empossado Hermes da Fonseca o fim dos castigos corporais, como a chibatada.

Uma semana após assistirem à punição de um companheiro, a tripulação do encouraçado "Minas Gerais" rebelou-se, matou o comandante e obteve o apoio de outras embarcações ancoradas na Baía da Guanabara.

Encerrada a revolta sob a promessa de anistia, João Cândido foi preso e expulso da Marinha. Internado e tratado como louco e indigente, o Almirante Negro só foi absolvido em 1912. Discriminado e perseguido, morreu de câncer aos 89 anos. Sua memória foi resgatada pelos compositores João Bosco e Aldir Blanc, no samba "O mestre-sala dos mares".





Fonte: O Dia

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