Advogados de acusação questionam veracidade de doença de Pinochet

A saúde do ex-ditador chileno Augusto Pinochet foi hoje objeto de uma discussão nos tribunais de justiça do Chile entre seus advogados de defesa e os que o acusam de violações dos direitos humanos.

Enquanto Pablo Rodríguez, defensor de Pinochet, afirmou que os julgamentos de seu cliente são parte "de uma perseguição política infame", o advogado de acusação Hugo Gutiérrez afirmou que Pinochet não é um perseguido, mas "um criminoso" que utiliza sua saúde para tentar obstruir a ação da Justiça.

As opiniões foram formuladas na audiência em que a Corte de Apelações concedeu a Pinochet a liberdade provisória em um julgamento pelos crimes cometidos pela "Caravana da Morte" contra dois dissidentes.

Pinochet, que foi internado no domingo no Hospital Militar após sofrer um infarto do miocárdio e um edema pulmonar, foi condenado e detido em 27 de novembro por ordem do juiz Víctor Montiglio pelo seqüestro e homicídio de Wagner Salinas e Francisco Lara.

Salinas e Lara foram seqüestrados e executados em 1973 por integrantes da Caravana da Morte, como ficou conhecido um grupo militar que em 1973 executou 75 presos políticos em sua passagem por várias cidades chilenas.

"É preciso entender de uma vez por todas que esta é uma perseguição política" disse Rodríguez, que acrescentou que, "sem dúvida", essa situação influiu no estado de saúde de seu cliente.

Segundo Hugo Gutiérrez, Pinochet devia continuar detido porque existem assuntos pendentes no processo e porque, na sua opinião, a enfermidade do ex-ditador é uma artimanha para obstruir a ação da Justiça.

"Pinochet não é nenhuma vítima de perseguição, mas sim o criminoso que cometeu os mais horríveis crimes de nossa história", disse Gutiérrez.

Para o advogado de defesa de Pinochet, a acusação participa de uma perseguição "infame" a seu cliente, e utilizam os palanques judiciais para criar "uma imagem distorcida" do ex-ditador (1973-1990).

Segundo Pablo Rodríguez, o atual estado de saúde de Pinochet se deve "ao estresse provocado pelas preocupações com estes processos" e criticou também os juízes encarregados dos julgamentos de seu cliente.

"Eu não tenho nenhuma dúvida de que os juízes foram extraordinariamente acessíveis aos pedidos destemperados da acusação e, dessa maneira, acho que nos prejudicaram enormemente no que diz respeito à saúde do general Pinochet", afirmou.

Frente às opiniões da acusação, que afirmaram que o atual estado de saúde de Pinochet é uma farsa com o objetivo de evitar resoluções judiciais adversas, Rodríguez afirmou que isso é uma "infâmia" e um recurso da pior índole.

Gutiérrez, porém, disse aos jornalistas que não tem dúvidas de que a doença de Pinochet é uma farsa.

"Consultei alguns cardiologista e eles me disseram que uma pessoa que sofre um infarto do miocárdio, que tem um edema pulmonar, que tem 91 anos e é diabética, estaria morta, se os acontecimentos recentes fossem verdadeiros", afirmou.

"Não estaria como esta pessoa (Pinochet), que está lúcida, consciente e conversando com seus familiares. Esta é mais uma das grandes mentiras que a defesa, junto com Pinochet, se atreve a contar para evitar uma condenação", acrescentou.