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Segunda - 04 de Dezembro de 2006 às 10:38

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Ó, paí, ó --corruptela de "olhe para isso, olhe"-- é uma expressão baiana que pode ser usada para chamar a atenção do interlocutor tanto para coisas boas quanto para as muito ruins. Se as apostas de sucesso de bilheteria no cinema brasileiro em 2007 estiverem corretas, convém prestar atenção desde já em "Ó, Paí, Ó", longa-metragem de Monique Gardenberg, previsto para estrear em abril. A Folha assistiu à versão recém-finalizada do título.

Estrelado por Lázaro Ramos, o filme conduz o hoje célebre ator baiano de volta ao seu berço profissional, o Bando de Teatro Olodum. "Ó, Paí, Ó" foi originalmente uma peça do Bando, encenada no início dos anos 90, para discutir a proposta então em curso de recuperação arquitetônica e "faxina" populacional do Pelourinho, símbolo da "baixa" Salvador.

Os principais personagens da trama são todos habitantes de um mesmo cortiço, administrado com mão de ferro por uma fervorosa fiel evangélica.

Carnaval

Como é Carnaval, a síndica da vida alheia, incomodada com a disposição para a farra de seus condôminos, decide puni-los, cortando o fornecimento de água do prédio.

A falta d'água, essa pequena adversidade da vida cotidiana, é um elemento a mais de união entre gente que leva a vida na fronteira da "normalidade".

O cortiço abriga uma especialista em fazer abortos clandestinos; outra na leitura de búzios; um travesti; um motorista de táxi que divide sua libido entre a mulher, as e os amantes e assim por diante.

O boa-praça do pedaço é Roque (Lázaro Ramos), cujo papel domina a narrativa, embora no coral de personagens todos tenham a chance de um solo.

Cantor

Aspirante a cantor, fã incondicional do Araketu, Roque ganha a vida como pintor --não de quadros, mas de carrinhos usados por crianças exploradas pelo bandido Boca (Wagner Moura, em seu primeiro papel repulsivo no cinema).

Ramos empresta a própria voz às canções que Roque interpreta em "Ó, Paí, Ó". Duas delas são composições inéditas de Caetano Veloso, feitas especialmente para o filme, "Canto do Mundo" e "Ó, Paí, Ó".

Caetano, autor do longa "Cinema Falado" (1986), cogitou dirigir "Ó, Paí, Ó" nos 90, quando a peça estava em cartaz na Bahia, mas desistiu da idéia.

Nessa época, Gardenberg preparava seu primeiro longa, "Jenipapo", no qual dirigiu os atores do Bando Olodum. Como tinha apenas 15 anos quando "Jenipapo" foi rodado, Ramos não conseguiu um papel importante no filme. Fez apenas figuração, mas não passou despercebido nos bastidores.

"Como o filme era falado em inglês, soube depois que ele passava a hora do almoço me imitando, dando as ordens na língua americana. Olha aí o deboche dos excluídos", diz Gardenberg, apontando a principal característica de "Ó, Paí, Ó" (o deboche) e também seu recorte temático (pelos excluídos). É essa confluência, ainda atual, que evitou o envelhecimento da história e manteve o interesse de Gardenberg em levá-la às telas, mesmo 12 anos depois de tê-la assistido.

Gardenberg não está sozinha na avaliação de que "Ó, Paí, Ó" pode ser atraente a um público amplo, numa época em que o Pelourinho já passou por reformas, mas os problemas estruturais de sua população seguem os mesmos. Ela tem a companhia de especialistas consultados pela Folha e, sobretudo, de Guel Arraes, diretor de núcleo da TV Globo e autor no cinema de êxitos como "O Auto da Compadecida" e "Lisbela e o Prisioneiro". Ele propôs a Gardenberg que o filme dê origem a uma série na Globo, em 2007.

"Ó, Paí, Ó" irá à TV no segundo semestre, após sua carreira nas salas, num molde inverso ao de "Antônia", em que a série, em cartaz, estreou antes do filme, previsto para 9/2.

No time de diretores da futura série "Ó, Paí, Ó", além de Gardenberg e Arraes, estão escalados Olívia Guimarães, Carol Jabor, Márcia Faria, Sérgio Machado ("Cidade Baixa") e o gaúcho Jorge Furtado, que dirigiu Ramos diversas vezes no cinema. Ó, paí, ó.





Fonte: Globo.com

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