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Domingo - 03 de Dezembro de 2006 às 10:58

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A Record comemorou muito a estréia de Vidas Opostas. E tinha razão para isso. A novela conseguiu a maior audiência de estréia na história da teledramaturgia da emissora: 17 pontos. Duas semanas depois, a audiência caiu sete pontos e se mantém na casa dos 10.

Escrita por Marcílio Moraes e com direção de Alexandre Avancini, a trama conta uma história de amor entre um moço rico e uma garota pobre. Até aí, nada de muito original. O ingrediente especial, nesse caso, é mostrar o outro lado de um cenário muito explorado pelos folhetins brasileiros - o Rio de Janeiro. As praias e outros pontos turísticos conhecidos estão nas cenas, é claro. Mas a violência, o tráfico, a corrupção policial e a miséria que dominam boa parte da cidade desta vez ganham inusitado destaque.

Desde o início, a emissora afirma que tinha a intenção de mostrar a realidade "nua e crua". Para o autor, a novela é ousada, embora realista. E o diretor aposta justamente nessa temática para conseguir sucesso de audiência. Afinal, o filme Cidade de Deus, uma das principais inspirações para o projeto, teve maravilhosa repercussão junto ao público e à crítica. Eles só devem ter se esquecido de que um longa-metragem dura cerca de duas horas. Já uma novela fica no ar por meses. E por quanto tempo o público vai suportar uma rotina de tiros, sangue e mortes na tevê? Ainda é cedo para responder a questão, mas vale a pena pensar no assunto.

Não há nada de anormal na já citada queda de audiência, visto que o primeiro capítulo sempre atrai um número maior de curiosos. A média de 10 pontos é, inclusive, um bom resultado para a emissora que, com Cidadão Brasileiro, novela anterior do horário, manteve os 11 pontos. De qualquer forma, a Record precisa ficar de olho nesses números para saber até onde o "mundo-cão" desperta atenção.

Logo nos primeiros capítulos, cenas bem dirigidas de combate entre policias e traficantes trouxeram ação e dinamismo à história. A interpretação convincente de alguns atores pertencentes à "ala do mal", como Heitor Martinez, por exemplo, também segura o telespectador. E ainda é preciso destacar as presenças de Leandro Firmino - que vive o traficante Sovaco - e Phelipe Haagensen, o Pavio, outro dos bandidos. A mesma naturalidade que mostraram no cinema - justamente em Cidade de Deus - eles mantiveram na estréia em novelas. Mas encontrar o limite para manter o foco no assunto violência parece ser o segredo para não cansar o telespectador.

E com outros trunfos na mão, não é preciso mais do que prestar a atenção no desenrolar da trama para não errar nas dosagens. A novela tem um casal de protagonistas jovens - vividos por Maytê Piragibe e o estreante Léo Rosa - que já mostrou entrosamento.

O texto é bom e flui com tranqüilidade nas mãos de figuras experientes como Lucinha Lins e Cecil Thiré. Sem contar os detalhes pequenos que o autor trabalha de forma eficiente. Como a presença de um estagiário paraplégico trabalhando ao lado do promotor Leonardo, interpretado por Luciano Szafir. A cena que mostra o rapaz em uma cadeira de rodas trabalhando normalmente, sem estar em um papel de "deficiente físico", dá o recado com uma naturalidade que a Globo nunca conseguiu alcançar em seus folhetins.

Vidas Opostas tem elenco, mocinha, galã, romance, comédia e todos os ingredientes que o telespectador procura em uma novela. Tem, inclusive, trilha sonora bem pensada, calcada nas canções de Chico Buarque. A Record só precisa mesclar tudo isso com as cenas de violência que quer mostrar. Porque se for para ver somente sofrimento e notícias ruins, o público pode se limitar aos telejornais.





Fonte: TV Press

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