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Saúde
Sexta - 01 de Dezembro de 2006 às 07:41
Por: Rose Domingues

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Mato Grosso teve um aumento de 28% no número de transmissão vertical (de mãe para filho) numa comparação feita Ministério da Saúde (MS) entre os anos de 1996 (início do tratamento com anti-retrovirais) e 2005. Em números, foram diagnosticados respectivamente 7 casos e 9 casos. Apenas os Estados da região Centro-Oeste apresentaram incremento desse tipo de contaminação em relação ao resto do país.

Se levados em conta os últimos 15 anos, chega a 112 o total de casos diagnosticados de Aids em crianças menores de 13 anos em Mato Grosso, uma média de sete por ano. Como o número anual de gestantes varia entre 48 e 50 mil, o índice daquelas que desconhecem ter a doença e a transmitem para a criança é inferior a 1%, num universo de 85 contaminadas no ano passado, por exemplo. Ainda assim, a situação desperta preocupação das autoridades públicas, porque é 95% evitável com o acompanhamento adequado da mãe no pré-natal.

Outra questão importante a se levar em conta é que mais da metade dos casos (51%) de HIV na gravidez nos últimos seis anos aconteceu com adolescentes ou adultos jovens, com idades entre 15 e 24 anos. De um total de 393 casos, pelo menos 200 estavam nessa faixa etária. O ritmo de crescimento também assusta, pois varia entre 20% e 35% ao ano.

Hoje, no Dia Mundial de Luta Contra a Aids, a técnica do setor na Secretaria de Estado de Saúde (SES), Maria Helena Lopes, avalia que existem alguns pontos a se comemorar, principalmente quanto ao tratamento dos doentes, pois os remédios realmente são eficazes. Mas ela afirma que falta investimento na prevenção e diagnóstico, o que inclui disponibilização dos exames, especialmente durante a gestação. "Existe cobertura adequada do pré-natal, as mulheres comparecem a mais de quatro consultas, mas uma parte delas chega ao final da gravidez sem saber que é soropositiva".

Ter a doença sem saber. O outro grande conflito vivenciado pela saúde pública: a subnotificação. Só para ter uma idéia do tamanho do problema, as estatísticas estimam haver pelo menos 15 mil pessoas vivendo com HIV e Aids em Mato Grosso, mas apenas 3.659 casos de pessoas com a doença, sendo que 51 descobriram a contaminação este ano, foram diagnosticados por enquanto. Isso significa que ao menos 11 mil pessoas estão contaminadas e não sabem.

Para Maria Helena, os únicos meios de se evitar a disseminação da doença é o uso do preservativo e a disponibilidade do exame. Os brasileiros precisam criar o hábito de se "cuidar" e pelo menos uma vez por ano realizar o teste sorológico anti-HIV. O preconceito precisa acabar em nome da vida. "Agora não existe mais grupos de risco, apenas comportamento de risco. Qualquer um pode se contaminar, estando ou não em um casamento".

Desespero - Fraca, repleta feridas pela pele e com a voz suavizada pelo sofrimento, a sitiante Ana* (nome fictício), 35, conta que pegou a doença de um ex-marido, um pouco antes de engravidar da filha caçula, de 9 anos. Por morar em Barranco Alto, uma comunidade rural próxima de Santo Antônio de Leverger, na Baixada Cuiabana, jamais imaginou que a Aids estivesse tão perto dela. Não chegou a fazer qualquer exame durante a gravidez que diagnosticasse o seu estado. Teve a filha, que por sorte não se contaminou. Há três anos sentiu os primeiros sintomas. Soube que o ex-parceiro, que a abandonou antes da filha nascer, estava doente. A notícia caiu feito uma bomba. "Tive raiva dele, de mim, por confiar, achei que fosse morrer".

Ana tem outros três filhos de um primeiro relacionamento e eles foram a grande força para continuar lutando pela vida. Há 15 dias abrigada na Casa da Solidariedade, mais conhecida como Casa da Mãe Joana, em Cuiabá, ela não vê a hora de voltar para perto da família. "Minha grande alegria é cuidar da minha terra, das galinhas, dos porcos, namorado agora nem pensar, melhor ficar sozinha".

A dona-de-casa, Maria* (nome fictício), 27, do interior do Estado, que também se hospedou na entidade, está enfrentando uma situação crítica. Aos dois meses de gravidez, descobriu que ela, o marido e duas filhas pequenas, estão contaminados. Não consegue arranjar trabalho, em razão do preconceito. Depois do diagnóstico positivo, começou a ser apontada por onde passa. Teme pelo futuro incerto, tanto que pretende se mudar para Cuiabá nos próximos meses.





Fonte: Gazeta Digital

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