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Sábado - 25 de Novembro de 2006 às 12:31

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A noite de sexta-feira do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro foi toda do veterano cineasta Vladimir Carvalho, consagrado pela platéia lotada do Cine Brasília na primeira exibição de seu documentário "O Engenho de Zé Lins".

Reconstituindo a biografia do escritor paraibano José Lins do Rego (1901-1957), autor de "Menino de Engenho" e "Fogo Morto", o filme é um dos seis longas concorrentes na categoria 35 mm.

Veterano deste festival, Vladimir Carvalho --irmão do celebrado diretor de fotografia Walter Carvalho --, lembrou que há 38 anos subia ao mesmo palco do Cine Brasília para apresentar outro filme, o curta "A Bolandeira". Na ocasião, lembrou, "a apresentadora, que era uma moça muito bonita, com um vestido transparente, chamou meu filme de 'A Bandoleira"'.

A platéia toda riu da história, enquanto Vladimir, que é conhecido por falar muito, prometeu que não ia se estender: "Só estou contando isto porque estou tentando não ficar nervoso".

Em seguida, ele chamou ao palco Antônio Veras, bisneto do escritor José Lins do Rego. Na camiseta do menino havia um enorme símbolo do Flamengo, antecipando um dos assuntos do documentário já que o escritor José Lins do Rego era não só um torcedor fanático do time carioca como fez parte da diretoria.

O Festival de Brasília entra no sábado na reta final, com a apresentação de dois fortes concorrentes: "Batismo de Sangue", de Helvécio Ratton (MG), ficção sobre memórias da ditadura militar baseadas em livro homônimo de Frei Betto; e "O Baixio das Bestas", de Cláudio Assis (PE), de quem se espera um filme com a mesma radicalidade e contundência de "Amarelo Manga", que venceu o prêmio de melhor filme em Brasília em 2002.

DEPOIMENTOS E POLÊMICA

No documentário "O Engenho de Zé Lins", que levou aproximadamente cinco anos para ser concluído, um dos pontos altos está nos depoimentos apresentados, como o da escritora Rachel de Queiroz, que morreu durante a produção do filme, em 2003.

O poeta Thiago de Mello, que foi muito ligado a Lins do Rego, dá um dos testemunhos mais emocionados. Ele lembra os últimos anos do escritor, quando ele sofria muito com os efeitos da esquistossomose que acarretava hemorragias constantes.

O também paraibano Ariano Suassuna coloca um toque de polêmica quando, ao comentar a grande amizade entre Lins do Rego e Gilberto Freyre, dá a entender que Freyre, mesmo sendo um grande escritor --autor de "Casa Grande e Senzala" --"não seria capaz de escrever um romance".

Mais polêmico ainda foi o autor carioca Carlos Heitor Cony ao afirmar que "o modernismo não criou nada", referindo-se ao movimento lançado pelos paulistas Mário de Andrade e Oswald de Andrade na Semana de 1922. Para Cony, "o modernismo mesmo existiu no Nordeste", na obra de escritores como o próprio Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos e outros.

"O Engenho de Zé Lins" também retrata uma cuidadosa pesquisa fotográfica, com todas as passagens da vida do escritor, seus familiares, amigos e também imagens do antigo engenho pertencente à família de Lins do Rego, que atualmente se encontra em ruínas e ocupado por famílias de sem-terra.





Fonte: Reuters

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