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Sábado - 18 de Novembro de 2006 às 11:10
Por: Onofre Ribeiro

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Até muito recentemente, aqui em Mato Grosso a palavra de ordem era empreender. Isso significativa criar negócios, inventar e ousar formas de produzir dinheiro, atividades e tocar a vida. Contudo, especialmente neste ano, a queda é visível. A palavra de ordem é conseguir um emprego público.

Como para isso o caminho são os concursos, então o foco da juventude é alcançar um emprego público. As páginas internet sobre concursos são procuradíssimas, e os cursinhos preparatórios estão indo de vento em popa.

Recentemente, conversei com um amigo que deu uma palestra numa faculdade de Direito em Cuiabá, e ao final perguntou aos alunos qual a percepção de futuro deles. E brincou antes de ouvir a resposta: “não vão me dizer que vocês todos sonham com o serviço público?”. Pior. A maioria sonhava ser juiz, promotor, defensor público, delegado de polícia, perito criminal, escrivão de polícia, ou visava cargos afins como oficial de justiça, etc. Mas isso valeria em todas as outras áreas das faculdades.

As razões para o desprestígio do empreendedorismo são claras. O país não cresce. Estagnado como está e como vem vindo há muitos anos, o consumo cai. Sem consumo, não há negócios. E quando o negócio é favorável, aí esbarra em coisas gravíssimas como a burocracia pública que começa na abertura da empresa, no seu registro na prefeitura, na fazenda, depois na burocracia da papelada, nos impostos que comem, no mínimo 15% se for na área de serviços. Mas será muito mais se for no comércio ou na indústria.

Depois, tem outro inimigo oculto que joga contra qualquer negócio: as leis trabalhistas com seus custos pesadíssimos.

Nesse ambiente, um advogado que pense em abrir um escritório, deve lembrar que a justiça é lenta e burocrática, não se ligando se ele precisa da decisão para receber seus honorários e pagar aluguel, secretária e seus custos. Logo, ser funcionário público é muito mais prático. Se tiver um bom preparo, faz um concurso passa, e amarra o burro na sombra. Não importam as crises e nem a lentidão da justiça ou, seja lá o que for. No fim do mês o salário está na conta e não precisa mais se preocupar com a competitividade do mercado e pode parar de estudar porque o concurso o torna vitalício. Além do mais, em qualquer eventualidade, as leis o protegem quase completamente dentro do espírito corporativo que domina o serviço público, um dos setores mais organizados da sociedade brasileira.

Na minha esfera de convivência, que não é pequena, escuto todo o tempo a orientação dos pais aos filhos: estudem para fazer concurso público.

Claro que esses pais e esses jovens não devem ser condenados por essa atitude. Afinal, tudo mundo quer o melhor para si e para os filhos. Mas essa paranóia pelo serviço público reflete uma sociedade espremida por circunstâncias contrárias.

Só para registrar: há uns dez anos, aqui em Mato Grosso todos sonhavam em abrir um negócio. Mas agora sonho na juventude está cada dia mais focado no serviço público. Isso é péssimo, como sinal de pouca vitalidade da sociedade e da economia.

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM





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