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Casos de dengue devem aumentar com final do período chuvoso
Cuiabá deverá enfrentar uma epidemia de dengue nos próximos meses. Ao contrário do que muitos imaginam, a cidade fica mais vulnerável à proliferação do mosquito causador da doença, o aedes aegypt, após o período das chuvas. A banalização da doença por parte da população e a multiplicação de criadouros domésticos preocupam especialistas que analisam dados epidemiológicos para prever problemas entre os meses de março e maio. Em 9 semanas, 852 casos foram notificados no município e uma morte foi confirmada.
Técnica de Vigilância em Saúde da prefeitura de Cuiabá, Moema Couto Silva Blatt explica que por conta das chuvas, quase diárias, há um transbordo dos recipientes onde o mosquito deposita a larva. ‘Com isso, há um processo de limpeza destes potenciais criadouros antes do tempo necessário para que os ovos se transformem em larvas e, depois, em mosquitos‘.
No entanto, logo após o período crítico de chuvas, que deve se encerrar ainda em março, tais recipientes permanecem com água, mas o processo de limpeza já não ocorre. ‘E isso torna estes locais propícios para a proliferação dos mosquitos‘. A explicação da técnica também se baseia na análise do diagrama de controle da doença, estudo desenvolvido e criado para acompanhar a evolução da doença na cidade, semana após semana.
Gráficos e cálculos elaborados por profissionais permitem a monitoração e possibilitam projeções para os próximos meses. ‘A ferramenta leva em consideração os indicadores dos últimos 10 anos e, com isso, podemos saber quais são as semanas mais complicadas e qual é o período em que a doença se alastra com mais facilidade na cidade‘.
E é por este estudo que Moema prevê um quadro de epidemia no município. ‘Estamos neste momento em situação de alerta de epidemia, o que não é a mesma coisa que epidemia. Mas os gráficos mostram que já estamos em um nível acima da média.‘ Utilizando os dados do ano passado, está previsto um avanço da doença pelos próximos 2 meses. ‘Não dá para dizer se irá acontecer, mas analisando a atual situação é seguro dizer que poderemos ter uma epidemia na cidade‘.
A técnica descarta qualquer previsão além desta, por conta de alguns fatores que não podem ser previstos. ‘O que importa mais é a prevenção. Porque não dá para saber se vai ser pior ou mais tranquilo do que o ano passado. Provavelmente, teremos um 2013 como um ano em que ocorrerá uma epidemia significativa da doença‘.
Novo sorotipo -Somado à chegada de um período crítico, preocupa a circulação de um novo sorotipo no município, a chamada dengue tipo 4 (DEN4). Embora seja semelhante aos tipos clássicos da doença, a ‘nova dengue‘ torna suscetível toda a população. ‘Então passamos a ter, novamente, centenas de milhares de pessoas que podem contrair a doença, o que aumentará, sem dúvida, a notificação de casos e o número de pessoas contaminadas‘.
Uma vez que grande parte da população já contraiu um dos 3 outros tipos, que circulam há vários anos, o novo sorotipo pode significar um quadro grave da doença, que muitas vezes pode levar a pessoa contaminada à morte.
‘Esta soma de fatores é a nossa grande preocupação. Porque temos a entrada do período crítico, um novo tipo da doença, com pessoas mais suscetíveis e com o agravante desta doença se desenvolver na forma mais grave‘.
Contenção -Uma das formas, talvez a principal, de se evitar a propagação da dengue é a limpeza de terrenos e quintais e a eliminação de espaços que podem acumular água e servir como criadouros de dengue.
Estudos da Vigilância em Saúde de Cuiabá mostram que mesmo diante de tantos registros de mortes ao longo dos anos e campanhas de conscientização ainda é no ambiente doméstico que se concentram grande parte dos criadouros.
Segundo Moema, o Levantamento Rápido do Índice de Infestação do Aedes Aegypt (Lira) aponta que os maiores criadouros existentes no município são as caixas d’água adicionais, comuns em cidades que sofrem com problemas de abastecimento de água, caso de Cuiabá, e o lixo acumulado nos quintais. ‘Por isso a parceria da população com o Poder Público ainda é fundamental. Neste sentido, temos uma parceria com a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, mas a população tem que fazer a sua parte‘.
O último Lira, realizado em novembro do ano passado, aponta 7 grupos de bairros da cidade, em todas as regiões, com índices considerados críticos. O restante dos bairros está em situação de alerta, acima do índice recomendado pelo Ministério da Saúde, de 1%. Nenhum ponto da cidade tem índices considerados satisfatórios.
Os bairros com o maior número de notificações, este ano, mostram exatamente esta condição. Lidera o ranking, com 34 casos, o Pedra 90, região Sul da cidade, seguido pelo Tijucal com 19. Bela Vista é o terceiro, com 17 notificações e na sequência vem o CPA IV, com 15. Jardim Florianópolis e Santa Isabel possuem 13 pessoas que contraíram a doença cada. Fecham a lista dos 10 bairros com maior índice de notificações o Cidade Alta, Goiabeiras, Dr. Fábio e Planalto.
No ano passado, a cidade registrou 9.757 casos e 5 dos bairros com maior índice de notificação este ano se repetem no ranking de 2012, o que mostra que mesmo com todo o trabalho desenvolvido ainda há muito o que ser feito.
Também preocupa a técnica em vigilância a banalização da doença, que causa problemas como a subnotificação e a falta de cuidados por parte da população com focos e criadouros dos mosquitos da dengue. ‘Hoje muita gente já nem procura o sistema de saúde quando apresenta sintomas. Falam que é dengue, tratam com o medicamento e voltam a viver normalmente e isso é preocupante‘.
Com isso, Moema alerta que embora haja mais de 800 notificações o número pode ser ainda maior. ‘È claro para nós que podem haver casos que nem chegam ao conhecimento do serviços de saúde. Então, embora sabemos da existência da subnotificação da doença, o que é grave, não dá para dizer quantos casos temos‘, finaliza a técnica lembrando que na ocorrência de qualquer sintoma da doença, as pessoas devem procurar uma unidade de saúde no bairro.
Fonte:
Do GD
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