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Nacional
Terça - 14 de Novembro de 2006 às 08:53

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São Paulo - Um mês antes da tragédia com o vôo 1907 da Gol, o boletim interno da Associação Brasileira de Controladores de Tráfego Aéreo (ABCTA) já alertava seus filiados sobre a responsabilidade civil em caso de acidente aéreo. Assinado por Wilson Floripes Júnior, integrante da ABCTA, o artigo da página 3 começa fazendo referência à conduta dos controladores de vôo: "Freqüentemente os ATCO's (controladores de vôo, na sigla em inglês) desenvolvem uma tendência a se colocarem acima do bem e do mal. Ou seja, tendemos a ignorar as regras e regulamentos de tráfego aéreo e impomos nossa personalidade à aviação", diz o texto, publicado no início de setembro no jornal da categoria, batizado de Contato Radar.

Em seguida, o autor analisa três artigos do Código Civil brasileiro que definem, juridicamente, o que é negligência, imprudência e imperícia. E questiona: "Será que alguns dos senhores já se viu em uma dessas situações? Provavelmente sim, mas como tudo deu certo, ficou por isso mesmo." O autor também faz questão de lembrar os controladores que, em caso de acidente, "as empresas aéreas, companhias de seguro e famílias das vítimas vão procurar um culpado e ele geralmente é o Estado." Mas adverte: "É aí que entram os cursos (radar, etc.), os testes operacionais, a inspeção de saúde... tudo isso é feito para que o Estado esteja isento de culpa, e adivinha onde ela vai recair?".

Para profissionais ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, o texto é 'profético'. "Foi exatamente o que aconteceu com os colegas que trabalhavam no dia do acidente, parecia que estávamos adivinhando", diz um controlador do centro Brasília (Cindacta-1). Há pelo menos três anos, diz ele, o número de funcionários do mais movimentado centro de controle aéreo do País - responsável por monitorar cerca de 80% dos vôos - é insuficiente. "O texto é claro. Nós estávamos trabalhando além da nossa capacidade", afirma o controlador.

Após o choque entre o Boeing 737-800 da Gol e o jato Legacy, que deixou 154 mortos no dia 29 de setembro, oito controladores e dois supervisores do Cindacta-1 foram afastados preventivamente de suas funções. A medida, praxe em situações desse tipo, fez com que outros 36 profissionais pedissem licença médica no período de 29 de setembro a 6 de novembro. Com um quadro de funcionários já defasado, o Cindacta-1 acabou entrando em colapso dias antes do feriado de Finados.

Para evitar que voltem a ficar sob suspeita, os controladores de Brasília decidiram que não controlarão mais do que 14 aviões simultaneamente. Antes da operação-padrão, deflagrada no dia 27 de outubro , eles monitoravam até 22 aeronaves ao mesmo tempo.

"Nosso erro foi absorver as falhas do sistema", diz um controlador. Embora as normas internacionais não especifiquem um número seguro de aviões por controlador, técnicos suíços que estiveram no País após o acidente com o avião da Gol recomendaram aos profissionais do Cindacta-1 que mantivessem a média de 14. (Bruno Tavares e Tânia Monteiro)





Fonte: Agência de Notícias

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