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Segunda - 13 de Novembro de 2006 às 14:15

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No domingo, dia 05 de novembro, poucas horas depois que a edição n. 265 do MT POPULAR chegou às bancas com a manchete “Doméstica é usada como laranja”, Lucinda da Silva recebeu em sua residência a visita do contador José Carlos Nogueira. A doméstica – que está desempregada, a exemplo de seu marido, passando grandes dificuldades -, recebeu proposta de pagamento em dinheiro, além de promessa de emprego, para fazer um “acerto”.

Na ocasião, Nogueira confessou a Lucinda que comprara seus documentos pessoais – haviam sido roubados dentro do ônibus, ela confirma, registrou até ocorrência – e depois fez uso deles para abrir a Poceron e Silva Ltda, da qual ela apenas soube quando recebeu cobrança da Receita Federal, ano passado. À época, ela registrou o caso na Polícia Civil, mas até agora não obteve nenhuma resposta da instituição.

Lucinda recusou a proposta de Nogueira – da qual não revelou o valor. “Esse contador é 171”, avaliou, numa referência ao artigo do Código Penal Brasileiro que trata dos crimes de estelionato e outras fraudes. Na tarde de segunda-feira (06/11), houve uma reunião, em certo escritório de advocacia consultado por Lucinda, da qual participaram, além dela e assessoria jurídica, Nogueira e o suposto Antonio Augusto Poceron, sócio majoritário da empresa, que em nenhum momento mostrou qualquer documento de identificação pessoal.

A reportagem do MT POPULAR também estava lá – fotografamos os dois à saída do prédio. À comparação com a foto de identidade de Poceron – cuja cópia a reportagem viu nos volumes do processo licitatório na qual a firma ganhou um contrato de R$ 1,6 milhão com a Prefeitura de Cuiabá -, o indivíduo que esteve na reunião não é Antonio Augusto Poceron.

REUNIÃO DE BACANA – Na reunião, novas ofertas de dinheiro e emprego, em troca do silêncio de Lucinda. De novo, não houve acerto. Mesmo assim, Nogueira e o suposto Poceron saíram animados, rindo à toa, como se vê na foto. No encontro, Nogueira admitiu novamente a compra dos documentos roubados para abertura da Poceron e Silva Ltda e ainda fez uma confissão estarrecedora, quando questionado sobre o contrato com a Secretaria de Infra-estrutura de Cuiabá. “Se não tiver esquema a gente não consegue trabalhar”, entregou o contador.

Encerrada a reunião, a reportagem entrou em contato com Nogueira, por telefone. O contador não conseguiu disfarçar o nervosismo do outro lado da linha. Quando perguntado sobre a reunião, foi ao desespero. “Eu sou só o contador, eu sou um contador, sou cuiabano, você liga aqui na casa de mamãe...”, engasgou. Inquirido sobre as confissões que fizera, saiu com uma pérola. “Cliente vem aqui abrir empresa, a gente segue uma conduta... se as coisas, depois, dá (sic) errado, eles pedem pra gente interceder”, esquivou-se.

“E a assinatura no contrato, é da dona Lucinda? Ela assinou ou não assinou pela empresa?”, interrogou a reportagem. “Num, não...”, engasgou Nogueira. “Eu vou querer falar com meu advogado”, dissimulou.

Depois, quase o mea culpa, quando indagado sobre a oferta de dinheiro e emprego a troco do silêncio da vítima – “a iniciativa minha é de sempre procurar resolver pobrema (sic)... o que eu tô tentando é buscar uma solução, porque se descobriu um pobrema (sic) que eu tava, é... que eu sou contador... se tem pobrema (sic), acho que tudo tem a solução, entende?”. Entendemos, claro. Solução é sinônimo de “acerto”, entende?

Nogueira também não quis fornecer o telefone de seu cliente Antonio Augusto Poceron. Pouco depois que a reportagem falou com o contador, Lucinda – a “laranja” -, telefonou para a redação do jornal. Pediu para que MT POPULAR não publicasse mais nada sobre o caso, do contrário não haveria mais o “acerto”. O direito dela à indenização independe de qualquer “acerto”, assim como o sagrado direito do leitor à informação – por isso, publicamos as novas revelações.

CASO DE POLÍCIA – Conforme informou a Secretaria de Comunicação, por determinação do prefeito Wilson Santos (PSDB), o procurador-Geral de Cuiabá, José Antonio Rosa, solicitou na tarde de quarta-feira (08/11), na Delegacia de Polícia Fazendária, a instauração de inquérito para apurar as denúncias reveladas com exclusividade pelo MT POPULAR.

A Procuradoria-Geral também abriu um procedimento administrativo para investigar as irregularidades. Na condução desse procedimento, José Antonio Rosa extrapolou sua competência legal, feito o delegado da PF paulista que tentou intimidar os repórteres da “Veja”. Via notificação, Rosa convocou o autor da matéria – ainda escreveu errado, “Aroldo Assumpção” – para prestar esclarecimentos. O jornalista não foi, é claro. Rosa que leia o jornal.

Talvez a Polícia Fazendária consiga afinal o que a reportagem ainda não conseguiu: localizar o misterioso Antonio Augusto Poceron. Conforme a página da Secretaria de Comunicação, o nome fantasia da Poceron e Silva Ltda é Monte Carmelo Materiais para Construção – embora tal informação não esteja no contrato social da Poceron. MT POPULAR localizou a firma, na avenida Archimedes Pereira Lima, s/n, bairro Santa Cruz. Lá, o responsável é Geraldo Pinto Marques. Procurado na quinta-feira (09/11), ele disse que Antonio Augusto Poceron havia saído – não voltou até sexta-feira (10/11). No pátio, só alguns montes de telhas e tijolos. Nenhuma máquina, equipamento ou caminhão – e o contrato milionário com a prefeitura de Cuiabá é para locação de máquinas e caminhões. “Tá tudo no mato”, escorregou.

“Procurem o contador”. Essa foi a recomendação de Marques ao encerrar a conversa, sem maiores delongas. Também foi a dica de um ex-funcionário administrativo da Poceron e Silva Ltda. Perguntado sobre o misterioso personagem e sua empresa homônima, ele respondeu: “É lá na [rua] Pimenta Bueno”. “Mas esse não é o endereço do contador [o escritório de Nogueira funciona à rua Pimenta Bueno, 715, bairro Dom Aquino]?”, questionou a reportagem. “Que eu saiba a Poceron funciona lá”, respondeu.

Nem lá, nem na Monte Carmelo, sequer o rastro do misterioso Antonio Augusto Poceron, assim como do procurador da empresa, um tal Valúcio Rodrigues da Silva – este, mora na rua Guadalajara, 44, apartamento 1104, no luxuoso condomínio Solar das Américas, no bairro Jardim das Américas. Estão em Lins. Não, não é a cidade do interior paulista. É Lugar Incerto e Não Sabido – já que o caso é de polícia, vale lembrar o jargão policial.





Fonte: MT Popular

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