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Nacional
Quinta - 09 de Novembro de 2006 às 10:39

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O agricultor José Vicente da Silva foi absolvido hoje no processo pelo assassinato há 19 anos na Amazônia brasileira do missionário espanhol Vicente Cañas, informaram fontes judiciais.

Silva era o último dos seis acusados pela morte do religioso, que defendia comunidades indígenas na Amazônia em conflitos com latifundiárias, e cujo caso ficou parado nos tribunais devido a supostas pressões políticas.

Dos seis acusados, dois já morreram, outros dois tiveram seus casos arquivados por terem mais de 80 anos, e os únicos dois levados a julgamento, entre eles Silva, foram absolvidos.

O ex-delegado de Polícia Ronaldo Antônio Osmar, acusado pela Promotoria de ter sido o intermediário entre os fazendeiros que ordenaram o crime e os autores materiais, foi absolvido em 29 de outubro após um julgamento que durou cinco dias.

Silva, que começou a ser julgado na segunda-feira em um tribunal de Cuiabá (MT), foi absolvido por cinco votos a dois.

Segundo a maioria dos jurados, a Promotoria não tem provas suficientes para comprovar a culpabilidade do réu, que era acusado do crime de homicídio qualificado e agravado por ter sido executado por encomenda e em uma emboscada.

Silva era acusado de ser um dos dois autores materiais do crime.

O julgamento do outro foi suspenso por ele ter mais de 80 anos, já que a legislação brasileira estabelece que as pessoas dessa idade só podem ser julgadas por crimes cometidos dez anos antes.

Dos três fazendeiros acusados de terem encomendado o assassinato, dois já morreram e o terceiro também teve o caso arquivado.

Após a leitura do veredicto, o Ministério Público informou que apresentará um recurso a um tribunal de segunda instância contra a absolvição. O caso, no entanto, prescreverá em cinco meses, quando o crime completa 20 anos.

Cañas, um jesuíta nascido em 21 de outubro de 1939 em Alborea (Albacete, Espanha), chegou ao Brasil em 1974 e se instalou em uma comunidade de índios Enawene-Nawe, na qual viveu como um deles e a que se uniu na defesa de suas terras.

Na época, os Enawene-Nawe, um grupo que vivia isolado na Amazônia, reivindicava a criação de uma reserva que protegesse seu território, o que contrariava o interesse de fazendeiros que desejavam ampliar suas áreas de cultivo em Mato Grosso.

Cañas tinha 66 anos quando foi assassinado, em abril de 1987. Seu corpo foi encontrado esfaqueado na cabana de madeira na qual vivia em uma floresta próxima ao município de Juína, mais de um mês após o crime.

Silva alegou no julgamento que, apesar de trabalhar para fazendeiros da região que se opunham à criação da reserva, não sabia que existia um complô para assassinar o religioso.

Assim como no julgamento do ex-delegado, o júri considerou insuficientes os testemunhos de três índios em que se baseava a acusação. Os índios asseguraram ter escutado terceiros falando sobre o complô para matar o missionário.

Apesar da alegação da defesa de que a investigação concluiu que não havia provas de que o missionário tivesse sido assassinado, os jurados, por seis votos a um, consideraram que houve um homicídio.

O juiz do caso, Jeferson Schneider, lamentou que o julgamento tenha demorado 19 anos para ser realizado e afirmou que, após tanto tempo e sem nenhuma condenação, "fica uma sensação de impunidade".





Fonte: EFE

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