POBRE RICO-POBRE
Foram cerca de 280 profissionais entre músicos, instrumentistas, técnicos de iluminação, cenógrafos, maquiadores, costureiras, cantores, figuração etc... . Um espetáculo grandioso, realizado pela coordenação de cultura da UFMT com o apoio da Orquestra Sinfônica e do Coral da universidade, além do principal patrocinador, a Unimed Cuiabá.
Espetáculos eruditos são de extrema importância para o desenvolvimento intelectual e cultural de qualquer cidadão, da mesma forma que o Pagode, o Carnaval, o Siriri, o Forró; da mesma maneira que o cinema, o teatro, os shows populares, o artesanato, as artes plásticas, a gastronomia e tantas outras formas de expressão.
Infelizmente alguns espetáculos e shows não são acessíveis a grande parte da população, que fica a margem do desenvolvimento cultural brasileiro. Um ingresso para ¨A Flauta Mágica¨custou 50 reais, mesmo com o apoio dos patrocinadores. O show da banda pop rock J Quest, que se apresentou recentemente em Cuiabá, custou entre 80 e 60 reais por pessoa, cerca de 20% do valor de um salário mínimo.
As desigualdades sociais existentes não são uma novidade ou exclusividade brasileira é claro, mas me fez lembrar de uma declaração dada à imprensa pelo publicitário Washington Olivetto e comentada num artigo da jornalista Martha Medeiros, que consegue definir com clareza a relação entre dinheiro, cultura, pobres e ricos. Olivetto classifica a população brasileira da seguinte maneira: pobres-pobres, pobres-ricos, ricos-pobres e ricos-ricos.
Os pobres-pobres (a grande maioria dos brasileiros) são aqueles que devido ao baixíssimo poder aquisitivo, não possuem acesso quase nenhum à cultura e perpetuam o ciclo: não ganham, não gastam, não aprendem e não ensinam, ficam alheios a tudo que ocorre à sua volta.
Já os pobres-ricos são uma minoria importante para a disseminação dos valores culturais. Geralmente são pessoas pobres, com renda baixa, alguns até sem renda fixa nenhuma, mas são agitadores intelectuais, participativos, criativos e sintonizados com tudo que é noticia na música, nas artes e no mundo dos espetáculos.
Também importantes para o desenvolvimento da cultura em nosso país, os ricos-ricos são as pessoas privilegiadas que possuem dinheiro e cultura. Movimentam o mundo dos leilões de artes, das exposições, das grandes coleções de obras, dos espetáculos musicais e teatrais; propagam o que conhecem e divulgam bons hábitos.
A riqueza destes últimos dois grupos está na qualidade da informação que possuem, na sua curiosidade, na inteligência que cultivam e passam adiante. São eles que fazem com que uma nação se desenvolva. Infelizmente, são os dois grupos menos representativos da sociedade brasileira.
Os ricos-pobres são a pior espécie de todos: têm dinheiro, mas não gastam um único centavo da sua fortuna em livrarias, shows ou galerias de arte, apenas torram em futilidades e propagam a ignorância e a grosseria.São os mais arrogantes e pobres de espíritos, não têm sensibilidade para as mazelas do país e só enxergam o dinheiro.
Geralmente os ricos-pobres viajam de primeira classe para Paris, mas não sabem quem foi Monet ou Picasso; vão aos melhores restaurantes e pedem os vinhos mais caros, sem saber o que é um ¨Terroir¨ ou uma ¨Pinot Noir¨; mandam seus filhos para a Disney, mas não vão às reuniões da escola; têm TV de Plasma por toda a casa, mas só assistem programas de auditórios.
Espero sinceramente que Mato Grosso, em sua trajetória de crescimento e riqueza, tenha a cada dias mais ricos-ricos e pobres-ricos, investindo, divulgando e alardeando cultura e sabedoria para as futuras gerações.
Comentários