Economia norte-coreana resiste, mas elite deve ter dificuldade
Kim Jong-il, cujo governo já resistiu a uma década de decadência econômica, ao isolamento internacional e à onda de fome da década de 1990, que matou até 10 por cento da população, continua solidamente no comando do país, segundo analistas.
"A elite partidária, a elite militar e toda uma classe de aproveitadores e gente que desfruta dos espólios de reformas econômicas estão todos no barco, e Kim Jong-il está na posição de imperador, no topo da estrutura", disse o acadêmico norte-americano Selig Harrison, que esteve no misterioso país comunista semanas antes do teste nuclear de 9 de outubro.
Segundo ele, as políticas que permitem que as elites partidária e militar lucrem com o comércio de minérios e outros produtos criaram "baronatos de todos os tipos" e um sistema descentralizado, menos propenso a um colapso, segundo Harrison, que viaja regularmente à Coréia do Norte desde 1972.
O ex-agente de inteligência Bruce Klingner, hoje na consultoria Eurasia Group, concorda que Kim está de fato isolado internacionalmente, mas alertou: "Passamos cerca de uma década com previsões da iminente queda de Kim, às quais ele sobreviveu."
Relatórios secretos, recentemente revelados, mostram que em 1997 a CIA acreditava que o regime comunista norte-coreano dificilmente duraria mais cinco anos.
Mas as perspectivas de longo prazo podem não ser tão róseas para Kim, que herdou o poder de seu pai, Kim Il-sung, em 1994. Supõe-se que Kim, 64 anos, já tenha planos de transferir o cargo a um de seus filhos, mantendo a única dinastia comunista da história.
Um novo estudo sobre a elite política norte-coreana, feita por Ken Gause, da entidade norte-americana CNA Corporation, descreve um sistema de "nobreza feudal" que, diante da escassez de recursos, pode abrir espaço para facções e até guerras internas.
"Como a economia norte-coreana se deteriorou sob Kim Jong-il, muitas elites foram forçadas a competir por privilégios e acesso como nunca antes", escreve Gause em um relatório de 68 páginas publicado pela Escola de Guerra do Exército dos EUA.
Harrison disse que, em sua recente viagem a Pyongyang, encontrou "muita corrupção nos altos escalões da Coréia do Norte, o que é perigoso para qualquer regime".
Muitos analistas consideram que a elite norte-coreana é a parte do país mais afetada pelas sanções financeiras impostas no ano passado por Washington, que acusa o regime comunista de vários crimes, como falsificação de dinheiro e narcotráfico.
Agora, as sanções da ONU privam a elite norte-coreana do acesso a bens de luxo e armas.
Apesar da iminente retomada das negociações pluripartites sobre o programa nuclear norte-coreano, os EUA dizem que não vão rever as restrições financeiras.
Para Klinger, Kim "é claramente o capitão no convés do navio, mas isso não quer dizer que o navio não seja o Titanic".
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