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Internacional
Quinta - 02 de Novembro de 2006 às 08:03

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A sociedade britânica está se tornando semelhante à imaginada por George Orwell em seu romance "1984", no qual todo o mundo é vigiado pelo "Grande Irmão" ("Big Brother") do berço ao túmulo, alertou uma agência do Governo encarregada de velar pela intimidade das pessoas Segundo a "Rede de Estudos sobre a Vigilância", existem no país cerca de 4,2 milhões de câmaras de circuito fechado de televisão (CFTV), o que equivale a aproximadamente uma câmara por cada 14 pessoas.

Edifícios públicos e privados, a rede do metrô e a maioria dos ônibus são equipados com essas câmaras que filmam continuamente qualquer movimento dos cidadãos.

O chamado comissário para a Informação, Richard Thomas, alertou nesta quarta-feira à noite, em declarações à imprensa, que o país está caminhando "sonâmbulo" em direção a "uma sociedade submetida a contínua vigilância".

David Murakami-Wood, co-autor do estudo, declarou à emissora "BBC" que, comparado a outras nações industrializadas, o Reino Unido é "o país mais vigiado do mundo".

"Temos mais câmaras de CFTV e leis menos rigorosas sobre proteção de dados e da intimidade", afirmou.

Segundo o analista, as autoridades tentam recolher cada vez mais dados sobre os cidadãos, e defendem seu suposto direito de não revelar o que sabem.

O sistema de vigilância total a que os britânicos estão submetidos inclui o acompanhamento, por parte da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, de todo o tráfego de telecomunicações que passa pelo Reino Unido.

A combinação de câmaras de CFTV, biometria, bancos de dados e outras tecnologias faz parte de uma rede muito mais ampla de sistemas inteligentes interligados que permitem acompanhar detalhadamente o comportamento de milhões de pessoas, afirma o relatório.

A obsessão das autoridades em saber o que faz cada pessoa o tempo todo aumentou ainda mais com a luta contra o terrorismo.

Segundo Thomas, são recolhidas e armazenadas cada vez mais informações pessoais sobre os cidadãos. A tendência, disse, não se limita ao Estado, pois o mundo empresarial reúne dados sobre cartões de crédito, telefones celulares, sites e outras informações de utilidade comercial.

Algumas dessas atividades podem ser bem-intencionadas e úteis, por exemplo, para combater o terrorismo e a criminalidade, facilitar o acesso aos serviços públicos ou privados e melhorar os serviços de saúde, reconheceu o comissário para a Informação.

Entretanto, alertou, um excesso de vigilância e o fato de esta não ser submetida a nenhum tipo de controle pode "favorecer um clima de suspeita e solapar a confiança" entre os cidadãos.

Segundo Thomas, também é fácil cometer erros com os dados reunidos, "o que pode ter graves conseqüências".

Outro analista preocupado é o professor Alec Jeffreys, um dos pioneiros da técnica de traçar perfis com a ajuda do DNA. Segundo ele, o banco de dados de criminosos não foi concebido para armazenar o DNA de milhares de inocentes.

Atualmente, o Reino Unido tem o maior banco de DNA do mundo, com 3,6 milhões de pessoas, muitas delas simples suspeitas que provaram sua inocência, mas não tiveram seus dados eliminados do sistema.

Um novo motivo de inquietação é o banco de dados do Sistema Nacional de Saúde, cuja montagem custou o equivalente a 18 bilhões de euros e no qual será guardado o histórico médico de milhões de pacientes, inclusive contra sua vontade.

O Governo do primeiro-ministro Tony Blair garante que o sistema representará uma revolução na gestão da saúde pública, mas os defensores dos direitos civis consideram que deveria ser perguntado ao paciente se ele quer ou não que seus dados sejam colocados em um computador ao que terão acesso pessoas que não são seu médico.





Fonte: EFE

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