Remédio caseiro pode causar danos à saúde
Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Farmacêutico (Sincofarma), Ricardo Cristaldo, apesar das vendas nos últimos três meses terem caído cerca de 15%, não está vinculado diretamente ao consumo deste tipo de medicamento comercializado na rua, sem alvará. Muita gente acaba comprando, mas após alguns dias sem melhora acaba procurando um médico ou diretamente a farmácia. "O setor teve uma queda em razão da crise do agronegócio, sentida apenas agora na Grande Cuiabá, e também pela insegurança do período eleitoral".
O rei da medicina. É assim que intitula o aposentado Claudemiro Neris, 73, que há 25 anos vende produtos naturais nas ruas e praças da avenida Coronel Escolástico (Prainha). Caninha de macaco, arranha gato, barbatimão, buchinha paulista, babosa, são nomes nem sempre conhecidos pelos mais jovens, mas que, segundo Neris, se utilizados adequadamente podem resolver qualquer mal da saúde. Ele repete: "cura qualquer coisa".
O raizeiro tem uma chácara na região do Coxipó, onde cultiva as plantas que utilizará nos preparos. "Inventei uma seiva de urucurana (árvore) muito boa para curar gastrite, úlcera e até câncer, dá para beber na água ou lavar o local da ferida". O produto vem em uma garrafa de dois litros de refrigerante, custa R$ 5, um dos mais caros da banca.
O ginecologista e homeopata, Luiz Augusto Menechino, reconhece a eficiência de algumas plantas, entre elas a folha do algodão, só que isso não significa que serve para todos os tipos de caso. "No meio médico a gente sabe que é um bom antiinflamatório, porém, se o caso se relacionar a algo mais que uma simples infecção, como por exemplo uma DST (doenças sexualmente transmissível), a situação tende a piorar porque o medicamento combate os efeitos e não o mal pela raiz, a pessoa passa mais tempo sem ir ao médico e os efeitos podem ser graves, até um câncer".
Ele acredita que o sucesso dos "naturais" no país se deve principalmente a três motivos: cultural, ausência de acompanhamento médico (muitas vezes o raizeiro é mais rápido e acessível) e falta de dinheiro. A tendência maior hoje é buscar outros tipos de tratamentos, mais baratos, que podem envolver também os fitoterápicos (como florais de Bach) ou os homeopáticos. "É preciso tomar cuidado porque todos eles têm efeitos colaterais".
Para a farmacêutica Marcela Lima, os fitoterápicos têm menos efeitos colaterais sim, mas prefere não fazer juízo de falar da medicina natural, até porque não existem parâmetros científicos suficientes para dizer o que faz ou não efeito. "Assim como as reações adversas são pequenas, o tratamento é em médio e longo prazo, os benefícios demoram mais para aparecer". Mas ao contrário dos raizeiros, ela diz que nem toda doença pode ser tratada com eles, apenas estresse, depressão, circulação, emagrecimento.
Medicina Popular - Com 15 anos de experiência, Maria Costa, 53, sabe falar sobre cada planta da sua barraca, na avenida General Valle, próximo à Santa Casa da Misericórdia. Ela mostra uma sacolinha de "paratudo", um conjunto de ervas que pode ser usado, como o próprio nome diz, para praticamente todo tipo de doença, entre elas, anemia, verminoses, desnutrição e gastrite. "As pessoas não imaginam a riqueza que existe nas nossas florestas, o melhor é que não há qualquer contra-indicação. Se a pessoa sentir algo diferente basta parar de tomar".
Um outro chá "7 ervas" é utilizado pode ser ingerido como inibidor do apetite, regulador intestinal, auxilia no combate à gordura localizada, celulite, estrias, ansiedade, ácido úrico, diurético e depurativo do sangue. "Deve ser ingerido um litro por dia, se for só para problemas do estômago o chá precisa estar frio. Eu geralmente passo as orientações para a pessoa, nunca vi nenhum resultado negativo, as pessoas sempre voltam para comprar mais".
Consumidoras - A cabeleireira Sueli Félix Nardotto, 41, dispensa qualquer tipo de medicamento vendido em farmácia pelos naturais. É um hábito repassado de mãe para filho, nas últimas quatro gerações. As duas filhas e os netos dela também pensam na mesma maneira, tanto que na casa delas não falta um pequena horta no fundo do quintal com ervas medicinais. "A gente costuma curar gripe, infecções de mulher, sinusite e outros tipos de problema só com remédio natural, porque não faz mal para saúde".
Criada no sítio, a comerciante Antônia Rosa Costa, 56, acostumou-se a usar as ervas no cotidiano e confessa uma certa aversão aos remédios convencionais. Diz que no campo o acesso aos médicos é mais difícil, por isso a prática é mais comum e geralmente dá certo. "Detesto farmácia, só compro quando é bastante necessário, mas meus filhos não pensam como eu, têm mais resistência aos chás ou produtos que levo para casa".
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