França lança canal de notícias para concorrer com visão de mundo anglo-saxã

Baseado em "valores franceses", o France 24, um canal internacional francês de notícias ininterruptas, será lançado em dezembro com financiamento estatal para competir com pontos de vista "anglo-saxões" disseminados pelas líderes do mercado, BBC e CNN, informou seu presidente nesta terça-feira.

A emissora começará a transmitir na internet em inglês e francês em 6 de dezembro e, dias depois, via satélite, disse ao jornal francês Le Figaro o presidente e diretor-executivo do novo canal, Alain de Pouzilhac.

Como suas rivais britânica e americana, o France 24 se fiará em "líderes de opinião" em todo o mundo para apresentar um cardápio de notícias, artigos e discussões.

Mas os telespectadores, segundo Pouzilhac, têm se tornado cada vez mais "céticos sobre a visão de mundo oferecida pelos anglo-saxões da BBC World e da CNN International".

Ao contrário, asseverou, eles "buscam opiniões contraditórias, que é o que a France 24 propõe ao se fiar em valores franceses".

Ele não definiu quais seriam estes valores na entrevista, mas afirmou que o canal dará destaque "à diversidade, ao confronto, sem esquecer da cultura e da arte francesa de viver".

Financiado pelo Estado ao custo de 80 milhões de euros (100 milhões de dólares) ao ano e dirigido por uma parceria entre as principais emissoras comerciais e redes de TV públicas francesas, o France 24 começará como uma versão menor da BBC e da CNN, que construíram redes globais e gozam de confiabilidade estabelecida.

A BBC World, braço internacional com financiamento privado da emissora pública britânica BBC, tem 250 funcionários e um faturamento mantido em sigilo. A americana CNN e suas divisões internacionais empregam 4 mil pessoas e têm receita de 860 milhões de dólares (730 milhões de euros).

Além disso, outros jogadores entraram no mercado, mais notavelmente a rede árabe Al-Jazeera, que começa a transmitir seu serviço em inglês a partir de meados de novembro.

Mas Pouzilhac insiste em que há espaço para o canal francês.

"A partir de seu lançamento, o France 24 atingirá potencialmente 250 milhões de indivíduos" e estará em 500 hotéis e 64 países, afirmou.

O canal estará disponível em toda a Europa, África e Oriente Médio e nas cidades americanas de Nova York e Washington. Depois, os planos são para estender suas transmissões para toda a América do Norte, a América do Sul e a Ásia.

Com 380 funcionários - inclusive 170 jornalistas bilíngües -, o France 24 terá parte de seu material em vídeo e reportagens fornecidas por suas companhias administradoras, a rede privada francesa TF1 e as emissoras estatais France Televisions, bem como por parceiras como a AFP e a Radio France Internationale.

O France 24 foi concebido anos atrás como a menina dos olhos do presidente Jacques Chirac, que em fevereiro de 2002 pediu um "grande canal internacional de notícias em francês capaz de rivalizar com BBC e CNN".

A invasão americana ao Iraque impulsionou o projeto porque Chirac teria ficado ofendido pela forma como CNN e BBC apresentaram a oposição francesa à guerra.

Em 2005, durante os distúrbios que afetaram várias cidades francesas, algumas reportagens na mídia americana destacavam que "Paris está queimando", o que também irritou seu governo.

Recentemente, Chirac afirmou esperar que o novo canal coloque a França "na linha de frente da batalha global das imagens".

Em junho passado, a Comissão Européia deu sinal verde para a emissora, mas comentaristas especializados em mídia ressaltaram problemas internos na companhia causados pela obrigatoriedade de TF1 e France Televisions - competidoras agressivas no mercado nacional - a trabalharem juntas.