Bolívia adia nacionalização do setor de mineração

A nacionalização do setor de mineração na Bolívia, anunciada para esta terça-feira, foi adiada por tempo indeterminado porque o Governo do presidente Evo Morales concentrará seus esforços em consolidar a dos hidrocarbonetos.

"Este ano queremos consolidar a nacionalização dos hidrocarbonetos. Temos todo um pacote para mineração, mas não queremos atropelar as coisas, mas ser responsáveis", disse Morales em entrevista coletiva com correspondentes.

O presidente afirmou que o Estado não tem "recursos econômicos para lançar a nacionalização da mineração", que devia começar hoje, como anunciou na semana passada o ministro do setor, Guillermo Dalence.

"Reconhecemos nossa fraqueza", disse Morales, ao comentar que se avançará "passo a passo" no fortalecimento da mineração e na perspectiva de modernizar a empresa metalúrgica Vinto com US$ 10 milhões.

"Em vez de processar nosso estanho no Peru, vamos pedir que seja processado em Vinto", disse Morales, ao se referir à empresa controlada pela suíça Glencore.

A fundição da Vinto foi comprada pela Glencore, a multinacional que também comprou no ano passado a Compañía Minera del Sur (Comsur) do ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada (1993-1997 e 2002-2003).

Morales assegurou em entrevista coletiva anterior que prevê nacionalizar as propriedades que pertenceram ao ex-presidente, atualmente refugiado nos Estados Unidos para evitar de ser julgado em seu país.

A Glencore, por intermédio de sua filial Sinchi Wayra, pagou ao ex-presidente US$ 200 milhões por 62% das ações que possuía na Comsur e mais US$ 90 milhões pela aquisição da companhia Vinto.

A Embaixada da Suíça na Bolívia afirmou na segunda-feira que confia em que a nacionalização das minas prevista pelo Executivo será realizada "no marco de suas obrigações internacionais e compromissos contratuais".

O Governo pretendia anunciar a segunda nacionalização da mineração hoje, no 54º aniversário da primeira medida desse tipo, tomada em 1952, durante uma revolução liderada pelo ex-presidente Víctor Paz Estenssoro.

Segundo o ministro Dalence, o decreto da nacionalização continua em estudo porque deve ser tecnicamente bem trabalhado e economicamente bem sustentado.

O anúncio da nacionalização produziu tensão em algumas das jazidas que as cooperativas minerárias controlam devido ao risco de perder suas fontes de trabalho.

O Governo ratificou seu plano para fortalecer a estatal Corporação Mineira da Bolívia com a contratação imediata de 4 mil cooperativistas mineiros na mina Huanuni de estanho, situada no departamento de Oruro.

Dois grupos rivais de mineiros, cooperativistas e estatais, se enfrentaram em 5 e 6 outubro pelo controle da jazida. O conflito terminou com 16 mortos e mais de 60 feridos.