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Nacional
Segunda - 30 de Outubro de 2006 às 00:48
Por: Mair Pena Neto

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Reeleito presidente do Brasil com 60,8 por cento dos votos válidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou a sua popularidade e garantiu um expressivo cacife político para conduzir o novo mandato de quatro anos.

A votação de Lula, superior a de 2002 em números absolutos, com 58,29 milhões de votos, e muito próxima em termos percentuais, sobrepujou os problemas enfrentados em seu primeiro governo e os momentos mais radicais da campanha.

"Sou grato ao povo que soube fazer diferença entre o que era verdade e o que não era", disse Lula, em seu primeiro pronunciamento após a vitória.

O segundo turno acabou se revelando benéfico para Lula, que sai das urnas mais fortalecido. Ele aumentou a sua votação em todas as regiões, inverteu a desvantagem que tinha no Sudeste e Centro-Oeste, sendo derrotado apenas na região Sul.

O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, encolheu em relação ao primeiro turno e, mesmo onde venceu, viu sua vantagem se reduzir. Em São Paulo, seu principal reduto eleitoral, Alckmin viu sua diferença para Lula cair da casa dos 4 milhões de votos para apenas 1 milhão de votos.

O segundo turno também deu a Lula uma base mais forte para o seu próximo governo. Ao ver seus aliados vencerem em seis dos 10 Estados em que houve segundo turno, Lula passou a ter o apoio de 15 dos 27 governadores do país.

RELAÇÃO COM O CONGRESSO

Lula revelou a intenção de usar seu novo poder político num papel mais atuante na coordenação política de seu futuro governo.

"Até dezembro, pretendo conversar com todas as forças políticas, todos as forças sociais e irei interferir mais nas negociações com o Congresso Nacional", prometeu Lula. "Não haverá veto a ninguém, chamarei todo mundo para conversar", acrescentou, manifestando a disposição para o diálogo com a oposição.

Alckmin telefonou a Lula parabenizando-o pela vitória e mais tarde fez um breve pronunciamento, agradecendo os votos. "A vida, como a democracia, é feita de conquistas e dificuldades", comentou Alckmin, dizendo-se feliz e com a consciência tranquila.

Parlamentares do PFL e do PSDB reagiram, após a proclamação da vitória apenas meia-hora depois do encerramento das urnas em todo o Brasil, prometendo uma oposição mais efetiva. Eles admitiram, no entanto, que a vitória de Lula foi "contundente", como disso o deputado eleito Paulo Renato Souza (PSDB-SP).

CRESCIMENTO Trajando uma camiseta branca com os dizeres "A vitória é do Brasil", Lula prometeu um maior crescimento da economia, já no ano que vem, e anunciou a manutenção da política fiscal, que desagrada parte de seus aliados.

"Manteremos uma política fiscal dura, porque não se pode gastar mais do se que ganha", afirmou o presidente. "Reivindiquem tudo o que quiserem, daremos apenas aquilo que a responsabilidade permitir", afirmou, dirigindo-se a dirigentes sindicais, e acrescentando que isso vale também para os movimentos sociais.

A proposta de uma política econômica mais desenvolvimentista no segundo mandato foi a bandeira de petistas encabeçados pelo ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, logo no início do dia. Em Porto Alegre, o ministro afirmou que acabou a "era Palocci" (ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci), caracterizada por taxas baixas de crescimento e preocupação neurótica com inflação.

A orientação da política econômica do próximo mandato de Lula e a formação da equipe de governo vão atrair a atenção dos especialistas do mercado nesta semana.

"A era Palocci está mais ligada àquela época de preocupação excessiva com estabilização, e agora a gente tem que manter a estabilização... não acho que vá se sacrificar isso", disse o presidente da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima), Alfredo Moraes.

PRIORIDADE AOS POBRES Apesar do compromisso com o controle dos gastos públicos, Lula reafirmou que os pobres terão prioridade em seu governo. "Continuaremos a governar o Brasil para todos, mas continuaremos dando mais atenção aos mais necessitados", afirmou.

Depois, em comício na festa da vitória, em São Paulo, que reuniu 4.000 pessoas na avenida Paulista, segundo a Polícia Militar, Lula disse que o resultado da eleição "foi a vitória dos de baixo contra os de cima".

Logo cedo, ao deixar a cabine de votação, em São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista onde se formou líder operário, Lula já tinha a certeza de que teria mais quatro anos à frente do Palácio do Planalto.

A possibilidade que se anunciava de uma vitória com mais de 20 milhões de votos de diferença o levou a convocar as forças políticas do país para a garantia da governabilidade.

As principais lideranças da oposição já enviaram um sinal positivo. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), desde já candidato à sucessão de Lula, em 2010, garantiu que irá trabalhar para a governabilidade.

"Há o tempo da eleição e há o tempo da construção. Se o presidente Lula for reeleito, estaremos na oposição, mas isso não impedirá que conversemos a respeito de uma agenda", sinalizou Aécio, logo pela manhã.

(Reportagem de Ricardo Amaral, Natuza Nery, Carmen Munari, Fernanda Ezabella e Daniela Machado, em São Paulo, Cesar Bianconi, em Brasília, e Sinara Sandri, em Porto Alegre)




Fonte: Reuters

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