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Internacional
Sexta - 27 de Outubro de 2006 às 09:22

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Um curso dará uma oportunidade para que correspondentes tentem fazer algo que quase todos os estrangeiros e muitos argentinos consideram praticamente impossível: entender o heterogêneo pensamento peronista.

Organizado pela agência estatal de notícias "Télam", o Curso de Peronismo para Estrangeiros oferece, a partir de quarta-feira, noções de história, identidade, mudanças e rituais de uma força na qual convive uma variada gama de ideologias e modelos de país.

Em 1946, um ano depois de irromper na política argentina, o coronel Juan Domingo Perón (1895-1974) fundou o Partido Justicialista (PJ). Foi o começo de uma caminhada que o levou a tornar-se general e ser eleito três vezes presidente da república.

A transferência, em 17 de outubro, dos restos de Perón a um mausoléu localizado em sua residência favorita nos arredores de Buenos Aires voltou mostrar a complexidade do movimento. Tudo porque, naquele dia, facções peronistas rivais se envolveram em um confronto que deixou 59 feridos.

As constantes disputas internas no PJ, partido do presidente Néstor Kirchner, e na Confederação Geral do Trabalho, a maior central sindical do país, também de raízes peronistas, dificultam ainda mais a tarefa de explicar o fenômeno político.

A idéia do curso, cuja aula inaugural foi acompanhada por cerca de trinta representantes da imprensa internacional, diplomatas e alguns curiosos, surgiu a partir das "constantes dúvidas transmitidas por colegas internacionais", explicou à Efe o presidente da "Télam", Martín Granovsky.

Segundo Granovsky, "cada país tem fenômenos aparentemente incompreensíveis para o estrangeiro e a curiosidade do jornalista deve (levá-lo a se) aprofundar nisso para esclarecer seu público".

"Se eles dizem que não são capazes de distinguir entre Juan Perón, Evita, Eduardo Duhalde e Carlos Menem,é preciso oferecer ferramentas para esclarecer o assunto", disse o jornalista.

A responsável por planejar e dar o curso é Patricia Berrotarán, diretora do departamento de Ciências Sociais da Universidade de Quilmes. Ela espera que "pelo menos os jornalistas entendam por que o peronismo é tão difícil de entender".

Alguns dos enigmas que intrigam os estrangeiros, diz Berrotarán, são a persistência do peronismo na atualidade, um momento tão diferente daquele em que o movimento surgiu, e as constantes contradições do PJ.

"Compreender o peronismo é quase tão complicado como entender a Argentina", brinca.

Com relação ao que é o peronismo, a professora afirmou que simplesmente se trata do "grande projeto fracassado de Perón".

O atual presidente Kirchner é peronista, assim como seus antecessores Carlos Menem (1989-1999) e Eduardo Duhalde (2002-2003).

No entanto, as ferozes lutas internas do PJ fazem com que as críticas ao Governo sejam mais duras por parte de peronistas do que de integrantes de outros partidos.

Para Menem, as políticas neoliberais e de privatização das empresas públicas dos anos 90 eram peronistas, enquanto Kirchner, cujas medidas econômicas incluem o fortalecimento do papel do Estado no controle de setores-chave, sustenta que seu pensamento político é próprio do legado de Perón.

Ao fim da Segunda Guerra Mundial, Perón falava de justiça social, soberania política e independência econômica, enquanto nos anos 70 propunha uma "terceira posição" frente à hegemonia dos Estados Unidos e da União Soviética.

O fato é que o fenômeno do peronismo continua sendo um mistério para muitos, tanto argentinos como estrangeiros. Durante o curso também será abordada a figura de Evita Duarte, segunda esposa de Perón - a mítica "mãe dos descamisados" -, tão amada e odiada na Argentina quanto o próprio general.





Fonte: EFE

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