Vitória judicial de casais homossexuais revitaliza direita americana
Assim, a organização da direita religiosa "Concerned Women for America" (Mulheres preocupadas pela América, numa tradução literal) denunciou a iniciativa de juízes politizados prontos "para impor" o casamento de homossexuais.
Mas esta organização, assim como a Liga Católica e o Fundo para a Defesa da Aliança (Alliance Defense Fund), também reconheceu nesta decisão uma "advertência" aos fiéis.
Estes grupos de pressão da direita americana aproveitaram para lembrar sua petição para proibir o casamento gay, que será submetido a um referendo em oito estados em 7 de novembro, no mesmo dia das eleições legislativas.
"É o futuro das famílias americanas que está em jogo", advertiu James Dobson, presidente da organização Focus on the Family. Com estas observações, os grupos conservadores querem jogar por terra as esperanças da oposição democrata de conquistar a maioria do Congresso ou pelo menos do Senado.
"Esta decisão, em um único estado, é exatamente o que os republicanos precisavam para mobilizar os conservadores em todo o país", disse Larry Sabato, professor da Universidade de Virgínia.
Segundo Sabato, a decisão da Justiça de Nova Jersey permitirá aos republicanos preservar pelo menos três cadeiras no Senado, em estados chave onde se organizam referendos para proibir o casamento gay. Se os republicanos mantiverem suas cadeiras em Missouri (centro), Tennessee (sul) e Virgínia (sudeste), terão chances de continuar controlando o Senado, onde os democratas precisam conquistar seis cadeiras (de 33) para alcançar a maioria.
Em 7 de novembro os americanos elegerão um terço dos senadores e os 435 membros da Câmara de Representantes. Além disso, no mesmo dia serão celebradas várias eleições locais (inclusive para eleger 36 governadores de 50 estados) e referendos.
Sabato avalia que ao colocar novamente o casamento gay no centro do debate político, a decisão da Suprema Corte de Nova Jersey mobilizará em todo o país uma base eleitoral indispensável para o partido republicado do presidente George W. Bush, base que parecia começar a lhe escapar.
Até esta semana o eleitorado ultra-religioso não escondia sua decepção com a administração Bush e sua maioria republicana.
Segundo o instituto de pesquisas Pew Research Center, menos da metade dos cristãos evangélicos brancos (49%) acha que o Partido Republicano é favorável à religião. Isto representa uma redução de 14 pontos em um ano, que se explica pela dificuldade do governo para confirmar no Senado a nomeação de juízes federais ultraconservadores. Neste contexto, o escândalo que envolve um representante republicano, acusado de ter trocado mensagens de correio eletrônico de conteúdo sexual com estagiários que trabalhavam no Congresso, teve o efeito de um balde de água fria, decepcionando muitos conservadores.
Mas o debate sobre o casamento gay pode ser suficiente para acabar com estas dúvidas: há dois anos, treze estados votaram por sua proibição, simultaneamente com as presidenciais. Em onze, Bush venceu facilmente, o que convenceu vários estrategistas republicanos de como o tema mobiliza seus eleitores.
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