Na China, Chirac mistura negócios e diplomacia
Possivelmente é a última viagem internacional importante do mandato de Chirac. Ele elogiou a maior presença chinesa no cenário internacional, especialmente na diplomacia com o Irã e a Coréia do Norte e no envio de forças de paz ao Líbano.
"Está claro que a China está cada vez mais engajada em lidar com os problemas internacionais", disse o presidente francês à emissora chinesa CCTV.
Chirac foi recebido no aeroporto de Pequim pelo chanceler Li Zhaoxing. Em quatro dias, visitará a cidade industrial de Wuhan, onde há grandes investimentos de empresas francesas, e o patrimônio imperial de Xian.
Diplomatas franceses disseram que, na sua reunião de quinta-feira com o presidente Hu Jintao, Chirac vai salientar a importância da unidade internacional em torno das sanções da Organização das Nações Unidas (ONU) à Coréia do Norte.
Pequim apoiou as sanções da ONU, mas não quer restringir o envio de combustível e ajuda à aliada Coréia do Norte, como pretendia Washington para pressionar o dirigente Kim Jong-il a voltar às negociações.
A China teme que sanções excessivas provoquem um colapso econômico na já miserável Coréia do Norte, criando uma onda de refugiados.
Durante as reuniões, Chirac deve mencionar a preocupação ocidental com a falta de liberdade de imprensa na China, enquanto os anfitriões devem se queixar do embargo de armas da União Européia ao país, imposto depois da repressão às manifestações pró-democracia da praça Tiananmen, em 1989.
Chirac tenta derrubar o embargo, sem sucesso até agora, e espera que as empresas francesas recebam polpudos contratos como recompensa, caso as restrições sejam abandonadas.
"Os chineses amam Chirac. É o único chefe de Estado ocidental que realmente fez uma aposta política e econômica na China", disse um diplomata francês antes da viagem.
A empresa francesa de engenharia Alstom já acertou um contrato de mais de 1 bilhão de euros para fornecer 500 das maiores locomotivas de frete já produzidas, segundo Patrice Kron, presidente-executivo da empresa.
Chirac leva cerca de 30 diretores de bancos, empresas de energia e indústrias a Pequim, mas seus assessores minimizaram a possibilidade de grandes acordos comerciais, em meio à forte rivalidade com os EUA por contratos na China.
O presidente francês defenderá a candidatura da Areva para construir modernos reatores nucleares. A empresa trava uma disputa com a norte-americana Westinghouse pelas obras, que podem chegar a 8 bilhões de dólares.
Uma fonte disse que a China pode optar pela construção de uma usina, com transferência de tecnologia para mais três — uma questão econômica delicada, que emperra as negociações há dois anos.
A visita de Chirac também é considerada uma última oportunidade de o banco francês Societé Generale tirar um contrato bancário de 3 bilhões de dólares do norte-americano Citigroup, cujo consórcio estaria à frente nas negociações para a compra do endividado Guangdong Bank.
Outra empresa com sede na França, a Airbus, aguarda autorização para construir sua primeira fábrica no exterior, em Tianjin (leste da China), além de negociar a venda de mais aviões à China.
A Suez (setor energético) anunciou um acordo preliminar com a chinesa CNOOC, do setor de gás e petróleo, para o possível fornecimento de gás natural liquefeito à China.
Chirac, 73, ainda não anunciou se disputará um terceiro mandato em 2007, mas sua visita à China é vista como um canto do cisne, destinado a reforçar sua imagem de estadista no exterior nesta reta final de governo.
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