Pequim: Pressões sobre Pyongyang podem levar a novo teste nuclear
Na primeira reação oficial de Pequim após uma semana de especulações da imprensa sul-coreana e japonesa, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, Liu Jianchao, negou que o presidente norte-coreano, Kim Jong-il, tivesse se desculpado à China pelo teste realizado no último dia 9.
"Essas informações são inexatas. Não ouvi nada sobre Kim Jong-il se desculpar", disse Liu.
Os inúmeros rumores surgiram após a reunião entre o enviado especial chinês, Tang Jiaxuan, e o presidente norte-coreano, Kim Jong-il, na quinta-feira passada em Pyongyang.
Em Pequim, durante seu encontro com a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, Tang disse que sua reunião com o líder norte-coreano no dia anterior "não tinha sido em vão".
"O presidente Kim Jong-il disse que a Coréia do Norte não tem intenção de fazer um segundo teste nuclear, mas observou que, se houver pressão externa, terá o direito de adotar novas medidas", disse Liu, sem explicar quais seriam os "motivos externos", em uma mensagem aparentemente dirigida a Japão, EUA e Coréia do Sul.
O Exército da Coréia do Sul anunciou hoje que realizará a partir de sexta-feira amplas manobras de desembarque de fuzileiros navais, o que o Governo da Coréia do Norte considerou um "ato de provocação" que terá "conseqüências catastróficas".
Em mensagem transmitida hoje pela "Agência Central de Notícias da Coréia do Norte" ("KCNA", oficial), o Governo de Pyongyang chamou as manobras de "provocativos jogos de guerra".
Com os exercícios militares, acrescenta a "KCNA", "os EUA e seus seguidores procuram exercer pressão militar a fim de derrubar a República Democrática Popular da Coréia".
Os EUA são considerados inimigos pelo regime de Kim Jong-il desde a época da Guerra da Coréia (1950-1953), cujas conseqüências, entre outras coisas, foi a presença de marines em território sul-coreano.
Se o Exército sul-coreano cumprir o anúncio, os testes serão realizados no mesmo dia em que o ministro de Relações Exteriores sul-coreano e novo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chegará a Pequim.
Ban ficará em Pequim até o dia 28, onde se reunirá com o presidente Hu Jintao, o conselheiro de Estado e emissário chinês, Tang Jiaxuan, e com o ministro de Exteriores, Li Zhaoxing.
A crise desatada pelo teste nuclear norte-coreano será um dos temas centrais na agenda.
A China vem pedindo moderação aos envolvidos e que a resolução da ONU não seja aplicada como uma desculpa para adotar sanções de forma unilateral.
"Retomar o diálogo não é um caminho fácil, é preciso que haja esforços árduos. Mas não importa o quão árdua seja a tarefa, sempre que houver esperança, devemos continuar as consultas e levar em conta os comentários positivos", disse o porta-voz chinês.
Entre os sinais positivos, estaria o fato de os seis países envolvidos nas conversas nucleares (as duas Coréias, China, EUA, Japão e Rússia), estagnadas desde novembro do ano passado, concordarem que é preciso retomá-las.
O principal empecilho, segundo o negociador chinês, seria a falta de um acordo sobre como retomar as conversas. Mesmo assim, ele disse acreditar num consenso.
Enquanto os EUA pedem uma volta ao diálogo sem condições prévias, a Coréia do Norte insiste em que Washington suspensa as sanções financeiras impostas em setembro de 2005 e que motivaram o boicote de Pyongyang às conversas.
Liu afirmou que a situação na fronteira com a Coréia do Norte é normal e disse não ter nenhuma informação sobre a retenção de uma embarcação norte-coreana em Hong Kong por motivos de segurança.
Também negou que a China esteja considerando reduzir sua ajuda energética e alimentícia a Pyongyang.
O emissário chinês insistiu em que seu Governo aplicará a resolução da ONU "honestamente" e disse que as "sanções não são o fim", mas deveriam ser voltadas para alcançar "a paz e estabilidade na península coreana".
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