Plano de vôo mostra que Legacy estava na altitude errada
De acordo com o plano de vôo, o Legacy deveria decolar de São José dos Campos às 14h30 e voar em direção de Poços de Caldas (MG) para apanhar a aerovia UW2 em direção a Brasília.
Nessa etapa, ele estaria a 37 mil pés de altitude e a uma velocidade de 972 km/h. Após passar por Brasília, o jato deveria descer a 36 mil pés, diminuir a velocidade para 820 km/h e mudar para outra aerovia, a UZ-6, na qual voaria até o pouso em Manaus (AM).
Após 513 km, o Legacy subiria para 38 mil pés e reduziria a velocidade para 808 km/h. A mudança se daria quando o jato cruzasse a posição Teres - um ponto virtual de controle aéreo, 307 quilômetros antes do local da colisão .
O plano de vôo detalhava outras informações. Uma delas, por exemplo, era a de que o jato enfrentaria uma turbulência às 16h56, quatro minutos antes da colisão. Por causa disso, estava indicada a localização da maleta de primeiro socorros na cabine de comando do jato - ao lado do banco do piloto Joe Lepore.
Além disso, caso o Aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus, estivesse fechado, o plano colocava como alternativa o pouso no aeroporto de Boa Vista (RR). O documento foi aprovado por Welder Soares Cabrera, funcionário da Embraer, e obteve a aprovação número 286. O tempo estimado de vôo até o destino final era de 3 horas e 34 minutos, onde chegaria às 21h09 (hora local).
Colisão No momento do acidente, tanto o Boeing da Gol quanto o avião Legacy se encontravam a 37 mil pés. Os pilotos do jatinho alegaram, em depoimentos às autoridades brasileiras, que simplesmente cumpriram o plano de vôo. Mas a análise do documento mostra que isso não é verdade: se tivessem seguido o plano, estariam a 38 mil pés, não a 37 mil, e a colisão teria sido evitada.
Com a análise do plano de vôo, aumentam as dúvidas sobre o maior acidente aéreo do Brasil. Os pilotos do Legacy alegam que perderam o contato com o Centro de Controle da Aeronáutica na área de colisão. E que por issso não teriam mudado de altitude.
Mas os pilotos não seguiram o plano de vôo também ao passarem por Brasília, quando deveriam ter descido para 36 mil pés, em vez de permanecer na altitude em que estavam desde a decolagem. O contato entre o Legacy e o Centro de controle estava normal em Brasília, segundo informações divulgadas até esta segunda-feira (9).
Welder Soares Cabrera, funcionário da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) que traçou o plano de vôo do jato Legacy 600, prefere não dar entrevistas sobre o acidente com o avião Boeing 737-800, mas, por telefone, ao G1, disse estar tranqüilo em relação ao seu trabalho.
Ressaltando que não se pronunciará enquanto não for autorizado por seus superiores, ele afirmou estar preocupado em evitar que os boatos sobre o acidente aumentem, aconselhou a reportagem a procurar fontes oficiais e disse que seguiu totalmente a legislação brasileira para traçar o plano de vôo.
O G1 procurou os controladores da cidade do interior paulista e a assessoria da Embraer, mas ninguém quis comentar o episódio.
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