PSDB quer manter foco no caso do dossiê
Qual a origem do R$ 1,7 milhão apreendido com petistas? Quem sacou e quem são os titulares das contas bancárias? Há dinheiro de campanha? Se a operação era para beneficiar o PT em São Paulo, por que os envolvidos eram ligados ao comitê de reeleição de Lula?
São essas e outras perguntas ainda não esclarecidas pela PF nem pelos petistas que o PSDB promete repetir à exaustão durante todos os dias da campanha, até 29 de outubro.
Na última sexta-feira, a Executiva Nacional do PT afastou Berzoini da presidência e expulsou Oswaldo Bargas, Jorge Lorenzetti, Hamilton Lacerda e Expedito Veloso, todos envolvidos no caso do dossiê. O objetivo é tentar preservar a candidatura de Lula, que larga de novo à frente de Alckmin nas pesquisas depois de não ter conseguido confirmar sua reeleição no primeiro turno.
Origem
A Polícia Federal, acusada pelo PSDB de servir de instrumento do governo petista para abafar a crise do dossiê, ainda não identificou a origem do dinheiro apreendido no hotel Ibis, em São Paulo, no dia 15 de setembro, com Valdebran Padilha e com o ex-policial Gedimar Passos, que trabalhava no comitê de campanha de Lula.
O órgão informou, no entanto, que a identificação será feita, mas não no "tempo da imprensa nem no da campanha".
No caso dos dólares, a PF sabe que os valores entraram no Brasil de forma legal a pedido do banco Sofisa, que, por sua vez, revendeu os valores para 20 distribuidoras. Dessas, a polícia se concentra nas sete com maiores movimentações.
Uma delas é a casa de câmbio Disk Line, que comprou parte dos US$ 248 mil apreendidos. O dono, o doleiro Marco Antônio Cursini, é investigado por lavagem de dinheiro.
No caso dos reais, a apuração é considerada mais difícil. A PF solicitou ao Banco Central um levantamento de todos os saques acima de R$ 10 mil realizados pelos bancos do Brasil, Safra, Bradesco e BankBoston nas praças de Brasília, Rio e São Paulo, entre 28 de agosto e 14 de setembro. O relatório não foi concluído até hoje.
Os 15 dias que separam as prisões dos petistas da votação em primeiro turno trouxeram uma sucessão de notícias negativas para o PT, apesar das tentativas do partido de blindar a campanha de Lula à reeleição.
Ligações com o PT
Após ser preso, o ex-policial contou ao delegado Edmilson Bruno que havia sido contratado pela Executiva Nacional do PT para analisar um dossiê contra candidatos do PSDB, que seria entregue por Padilha.
Ex-tesoureiro do PT em Mato Grosso, Valdebran era emissário de Luiz Antonio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas e dono da documentação.
O ex-policial citou ainda um petista chamado Freud como o suposto mandante da operação. O fato acendeu a luz vermelha na campanha petista. Conhecido por sua fidelidade a Lula, Godoy foi nomeado, em 2003, assessor especial do gabinete pessoal da Presidência.
Até hoje, este foi o único indício de envolvimento de Freud no caso do dossiê, mas ele deixou o cargo no governo e é investigado pela PF.
Enquanto o PT tentava tirar o dossiê do palanque, membros importantes da campanha de reeleição e amigos de Lula foram envolvidos na negociação do dossiê contra os tucanos.
São eles: Ricardo Berzoini, então coordenador da campanha e presidente do PT; Jorge Lorenzetti, chefe do setor de inteligência do comitê de reeleição e churrasqueiro de Lula; Osvaldo Bargas, amigo do presidente desde a época do sindicado, e Expedito Veloso, diretor do Banco do Brasil.
Todos foram afastados de seus cargos e funções.
A crise atingiu também a campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo paulista. O ex-coordenador-geral Hamilton Lacerda foi apontado pela PF como o homem que levou o R$ 1,7 milhão ao hotel e o entregou a petistas.
Entrevista
Lacerda intermediou ainda uma entrevista de Vedoin à revista "IstoÉ", que publicou declarações do chefe dos sanguessugas e de seu pai, Darci, acusando o governador eleito de São Paulo e ex-ministro da Saúde, José Serra (PSDB), de participação na venda superfaturada de ambulâncias. Depois, ouvido pela polícia, Luiz Antonio Vedoin retirou a acusação.
Dois dias antes do primeiro turno, a imprensa teve acesso às fotos do dinheiro apreendido. A contragosto do comando da PF, as imagens foram repassadas pelo delegado Bruno, que atuou nos três primeiros dias do caso, até ser afastado. Bruno negou que quisesse interferir na eleição ao divulgar as fotos, mas a PF investiga se ele agiu por motivação política ou até em troca de dinheiro ao vazar as fotos para a imprensa.
Lula, que chegou a abrir 24 pontos de vantagem sobre o rival tucano antes da crise do dossiê, chegou ao dia 1º de outubro com 50% dos votos válidos, a mesma marca da soma de seus adversários. Acabou com 48,61% na eleição.
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