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Internacional
Sábado - 07 de Outubro de 2006 às 10:03

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Cem mil pessoas, de acordo com informações oficiais, participaram nesta sexta-feira de um protesto no centro de Buenos Aires pedindo pelo aparecimento --"com vida"-- do ex-pedreiro Jorge Julio López, de 76 anos, vítima da última ditadura militar (1976-1983).

A manifestação contou com a presença de diferentes entidades de direitos humanos e com o apoio, segundo a imprensa argentina, do presidente Nestor Kirchner.

"Justiça, justiça", gritavam os manifestantes, enquanto erguiam bandeiras e faixas.

López está desaparecido há 19 dias e suspeita-se, no governo Kirchner e nestas entidades, que ele tenha sido seqüestrado depois de testemunhar contra o ex-delegado da polícia da província de Buenos Aires Miguel Etchecolatz, de 77 anos. Há 20 dias, após depoimento do ex-pedreiro, Etchecolatz foi condenado por sua participação na repressão.

Com a decisão da Justiça, Etchecolatz entrou para a história argentina como o primeiro condenado após a anulação, durante o governo Kirchner, das leis de obediência devida e ponto final (anistia aos militares que participaram da ditadura).

Segundo protesto em 15 dias

Este foi o segundo protesto pedindo por López em menos de 15 dias. Sua foto está espalhada pela cidade.

As emissoras de rádio e de televisão divulgam, várias vezes ao dia, a recompensa de 200 mil pesos oferecida pelo governo da província de Buenos Aires em troca de informações sobre seu paradeiro.

Em telefonemas às casas de família e a diferentes empresas, uma gravação assinada pelo governo de Buenos Aires pede dados sobre o destino de López e recorda o valor da recompensa.

Nesta sexta-feira, as entidades Mães e Avós da Praça de Maio, com apoio dos Hijos ("Filhos" de desaparecidos políticos) e de artistas, leram um poema do chileno Pablo Neruda - "Peço Castigo".

Explicaram também que esperam que a Justiça, como disse Tati Almeida, da "Mães da Praça de Maio", "prevaleça" e "jamais seja feita com as próprias mãos".

Com o tradicional lenço branco que caracteriza as "mães", Tati Almeida acrescentou: "Esperamos por López, e com vida".

"Que os genocidas (ex-ditadores) saibam que nossa luta só está começando, depois do fim das leis de obediência devida e ponto final", destacou, referindo-se às leis assinadas pelo ex-presidente Raul Alfonsín e anuladas recentemente.

"Não temos medo"

A nova manifestação --muito maior que a anterior-- pelo aparecimento de López foi realizada um dia depois que familiares de militares e militares reformados protestaram em homenagem "às vítimas da guerrilha".

Com fotos de militares mortos durante aqueles mesmos anos de chumbo, eles pediram "anistia".

Segundo as organizações de direitos humanos, 30 mil pessoas desapareceram vítimas da repressão militar durante os sete anos de ditadura. Estima-se, de acordo com o jornal Clarín, que, naquele período, morreram cerca de 60 militares.

Nesta sexta-feira, a presidente da entidade "Avós da Praça de Maio", Estela de Carlotto, cuja filha foi morta na ditadura, confirmou ter sofrido, esta semana, ameaças (pelo telefone).

"Não temos medo", disse. Segundo ela, se López não aparecer, será buscado --e salvo.

Quando perguntada sobre o protesto dos familiares dos militares, declarou: "Foi um ato covarde. Aqui houve um genocídio, e eles não querem reconhecer este fato".

Outras ameaças

Nos últimos dias, foram publicadas --no Clarín, no La Nación e no jornal Perfil-- informações de que o empresário Jorge Fontevecchia (dono da editoria Perfil) recebeu uma série de telefonemas com ameaças de morte contra sua família --"se não parar de criticar o governo Kirchner".

Nesta sexta-feira, a revista Noticias (da mesma editora) publica matéria de capa com o principal analista político do jornal La Nación, Joaquín Morales Solá, dizendo que está pensando em pedir "asilo político" no Uruguai, "depois das ameaças de morte" e das críticas que sofreu do "presidente Kirchner".





Fonte: Folha Online

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