Repórter News - reporternews.com.br
Internacional
Quinta - 05 de Outubro de 2006 às 15:22

    Imprimir


Uma velha carta do líder revolucionário aiatolá Ruhollah Khomeini virou o epicentro de uma disputa entre políticos iranianos às vésperas das eleições para um importante órgão decisório. Na carta, o aiatolá conta que militares iranianos pediram bombas atômicas para continuar a guerra contra o Iraque na década de 1980.

A carta foi divulgada na semana passada pelo ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani. Segundo analistas, o objetivo do ex-presidente teria sido ressaltar sua importância na guerra contra o Iraque (1980-88) e desgastar a imagem do presidente Mahmoud Ahmadinejad e de outros políticos de linha dura que defendem o programa nuclear iraniano.

Em dezembro, o Irã realiza eleições para a Assembléia dos Especialistas, um importante órgão religioso que tem poder decisório no sistema iraniano de governo. A campanha coincide com a tensão entre Teerã e o Ocidente por causa do programa nuclear iraniano.

Mas, como é comum nessas disputas políticas da República Islâmica, especialmente quando envolve questões delicadas como a nuclear, o significado da divulgação da carta é velado e aberto a interpretações.

"A razão primária é [Rafsanjani] provar a si mesmo", disse o professor de Ciência Política Nasser Hadian-Jazy.

Rafsanjani, que deve concorrer em dezembro a uma vaga na Assembléia dos Especialistas, foi criticado por radicais por incentivar Khomeini a acabar a guerra. A maioria dos analistas diz que o conflito havia atingido um sangrento impasse. Na carta, Khomeini explica por que abandonou a guerra.

O aiatolá escreveu que os militares haviam redigido uma longa lista de armas que seriam necessárias para o Irã retomar a ofensiva e ganhar o conflito. Entre elas havia 2.500 tanques, 300 aviões e "um número substancial de armas a laser e atômicas".

Na época, porém, o país enfrentava dificuldades financeiras e o moral da população estava baixo. Por isso, Khomeini decidiu relutantemente acabar a guerra, mas disse, na carta, que "esta decisão é como beber um cálice de veneno."

A referência nuclear foi apagada em textos posteriores e só apareceu na sexta-feira, embora a razão para a divulgação não esteja clara. Um analista disse que a carta indica que, mesmo em guerra, o Irã preferiu não ter armas nucleares.

Atualmente, Washington tenta impor sanções ao Irã na ONU, acusando o país de desenvolver bombas atômicas. Teerã diz que seu programa nuclear é pacífico.

Hadian-Jazy disse que Rafsanjani, derrotado por Ahmadinejad nas eleições presidenciais do ano passado, usou a carta como "um ataque geral ao radicalismo".

Outro analista, Mahmoud Alinejad, disse que o ex-presidente está "tentando lembrar às pessoas que há certos grupos que tentam novamente, para seus próprios fins políticos, levar o país para o confronto com o mundo exterior".

Segundo ele, o gesto de Khomeini, que preferiu desistir da guerra para evitar a ruína do país, deveria servir de inspiração para que o país buscasse um acordo na questão nuclear.

O presidente Ahmadinejad, que lutou na guerra contra o Iraque e se opõe a um acordo na atual disputa nuclear, criticou os que tentam usar a carta para obter benefícios políticos.

"Quem acha que pode descarrilar a forte determinação da grande nação iraniana em obter progresso e desenvolvimento por meio da criação de dúvidas não vai ter sucesso", disse ele aos seus ministros no domingo, segundo a agência estatal Irna.





Fonte: EFE

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/270713/visualizar/