Legacy enganou controle e ignmorou alertas feitas pelo rádio
Todas as informações da Aeronáutica mostram que os pilotos americanos do Legacy voaram com o transponder desligado (aparelho que identifica o avião no radar e integra o sistema de alerta anticolisão), impedindo que os controladores de vôo vissem os dois aviões na mesma rota e evitassem a colisão.
Mais grave e misterioso: a Aeronáutica quer saber por que o piloto do jato não atendeu aos inúmeros chamados que a torre do Cindacta 1 fez até o momento do choque. Quer saber também como, após a colisão, não só o transponder voltou a funcionar como o piloto passou a chamar a torre, narrando o choque com um objeto não identificado pelo mesmo rádio que não havia atendido até então.
“Muito provavelmente, ele havia diminuído o volume do rádio. Ele (o avião) começou a ser chamado pela torre de Brasília e não respondia. A resposta veio, como por milagre, após o impacto”, disse um oficial.
A Aeronáutica fez uma reconstituição dos vôos das duas aeronaves envolvidas na colisão para verificar possíveis falhas de cobertura dos radares ou na comunicação das torres de controle. Não detectou nada de errado.
Depoimentos colhidos revelam ainda que o transponder do Legacy estava ligado quando o jato levantou vôo em São José dos Campos (SP) rumo a Manaus. Assim, as investigações encaminham para o enquadramento do piloto do Legacy, Joe Lepore, e do co-piloto, Jan Paladino, por homicídio culposo, caso fique provado que agiram com imprudência.
Segundo os peritos, sem o transponder do Legacy ligado, o sistema anticolisão do Boeing não tinha como registrar a aproximação do jato. Nem os operadores de vôo tinham como verificar a posição exata da aeronave.
O radar indicava que o Legacy estava a 36 mil pés de altitude (10.972 metros), daí porque, apesar de o jato não responder aos chamados da torre, os operadores não decidiram desviar o Boeing, que vinha a 37 mil pés (11.277 m). A localização do jato estava distorcida por causa do transponder desligado.
Para entender por que isso ocorreu é preciso saber como os aviões são controlados pelos radares. Há a detecção primária. Por meio dela, qualquer objeto voador é acusado pelo radar. Quando mais distante do radar, maior a distorção na localização da aeronave. O Cindacta-1 de Brasília controlava o Legacy, que sobrevoava a divisa entre Mato Grosso e Pará.
Existe ainda o sistema secundário de radar. É ele que se comunica com o transponder para receber a posição exata e a altimetria do avião. Sem que o sistema esteja ligado, o avião não deixa de aparecer para a torre. Mas a identificação some e a localização perde exatidão.
Os registros dos radares mostram que o transponder do Legacy foi desligado pouco antes da colisão. E religado depois, antes do pouso na Base Aérea do Cachimbo (PA). Também mostram que o Legacy, enquanto ainda estava sendo monitorado pelo radar secundário, voava a 37 mil pés, mesmo depois de passar por Brasília. Ao decolar de São José, o jato recebeu o plano de vôo, assinado pelo piloto, que indicava que devia viajar a 37 mil pés passando pelo eixo São Paulo-Brasília e, então, descer para 36 mil pés.
Isso é obrigatório por causa da mudança de proa - sentido da aeronave - ao entrar no trecho Brasília-Manaus. Na rota Manaus-Brasília, a altitude de 37 mil pés é o espaço usado pelos aviões que vêm no sentido contrário, como o Boeing.
A Aeronáutica quer saber o que desligou o transponder. Pode ter sido decisão do piloto ou pane, o que é pouco provável. O equipamento tem cinco posições: desligado, stand by e os módulos A,B e C. Só neste último o transponder envia ao controle de vôo os dados de altimetria. Suspeita-se que o piloto o desligou para fazer manobras não-autorizadas com o jato recém-adquirido pela empresa de táxi aéreo ExcelAire ou ganhar altitude e velocidade a fim de economizar combustível.
COMUNICAÇÃO - Outro fator que pode ter contribuído para o acidente é uma improvável falha de comunicação. A regra é cumprir o plano de vôo. Para alterá-lo, é preciso pedir autorização. Assim, a torre entendia que o Legacy não ia descumpri-lo. Ele estaria em sua aerovia e não havia por que avisar ao Boeing sobre a existência de alguém em sua rota.
Só depois que percebeu o transponder do Legacy desligado é que o controle tentou contato com o jato, para pedir que ele religasse o aparelho. Ao depor, Lepore teria dito que estava fora da cabine do avião.
Técnicos da Aeronáutica rejeitaram suposições de haver um ponto cego no monitoramento de tráfego. Na fita do controle do tráfego aéreo pode ser visto outro avião, da TAM, na mesma rota. Há anomalias na comunicação por rádio na área do acidente, mas insuficientes para impedir o contato do Cindacta com as aeronaves.
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