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Nacional
Terça - 03 de Outubro de 2006 às 07:54

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A Prefeitura de São Paulo decidiu fechar o cerco sobre a venda de frango abatido na hora --um negócio espalhado por mais de 400 pontos de venda na cidade, que juntos comercializam cerca de 4.500 aves por dia. Entre maio e o final de agosto, 102 estabelecimentos foram interditados pela Covisa (Coordenação de Vigilância em Saúde, ligada à Secretaria Municipal de Saúde).

Uma nova série de visitas está prevista para o início de setembro, segundo a Covisa. De acordo com a diretora do órgão, Marisa Lima Carvalho, é a primeira vez que se planeja inspecionar todas as avícolas de São Paulo. Entre os motivos estão a prevenção a uma possível epidemia de gripe aviária, o mau cheiro e o risco de contágio de doenças por clientes e pelos próprios funcionários das avícolas. Uma lei federal proíbe que um mesmo local seja utilizado para a venda e para o abate de animais.

Segundo Carvalho, o rigor aplicado em cada ação da Covisa depende dos riscos envolvidos. "Quando há possibilidade, a gente orienta e não interdita. Mas no caso das avícolas não há o que possa minimizar os riscos", afirma. A diretora sugeriu aos avicultores a formação de uma cooperativa que centralize os abates.

Iniciada no final de maio, a ação gerou protestos. Em reunião realizada em junho, os avicultores reivindicaram uma anistia temporária. A Covisa informou que há normas que obrigam o fechamento do abate e manteve a agenda de inspeções.

O avicultor e imigrante chinês Lin Jia Fu, 51, considerou úteis os esclarecimentos do órgão, mas acha que as autoridades devem prestar mais atenção ao desemprego que a ação pode gerar. Representantes do setor estimam que a atividade envolva 5.000 empregos diretos, 80% dos quais ligados à comunidade chinesa na cidade. Os avicultores pedem à Câmara a regularização do comércio, diferenciando-a das regras que valem para os abatedouros industriais.

Entre as avícolas já fiscalizadas, segundo a Covisa, cinco fecharam as portas definitivamente e 33 foram autorizadas a reabrir desde que não realizem abates. As demais foram multadas ou têm processos em andamento. O órgão não sabe quantos estabelecimentos desacataram a interdição e mantiveram a atividade, mas estima que o número seja alto.

"Se fosse para arrumar, eu entenderia. Mas estão nos desafiando", diz Fábio Henriques de Lima, 45, proprietário de loja na rua das Palmeiras (região central) que vende cerca de dez frangos por dia. Na sua opinião, a ação não leva em conta a preferência de muitos consumidores por aves frescas. Por esse motivo, vê desrespeito cultural e favorecimento aos grandes produtores.

Preferência

'Acho o frango da avícola mais saudável porque a gente vê o estado do animal ainda vivo, escolhe na hora. O que é vendido no mercado a gente não sabe quando foi morto', explica o aposentado Antônio Alves, 53, freguês de avícola em Itaquera (zona leste) que há dez anos compra duas ou três aves por semana. Segundo ele, o animal fresco é mais saboroso e não tem a mesma quantidade de água que o frango congelado, o que compensa o maior preço.

Ações da Vigilância Sanitária sempre envolvem algum grau de conflito entre critérios técnicos e tradições culturais, na opinião da historiadora Maria Cristina da Costa Marques, da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo). Além dos chineses, muitos ex-moradores da zona rural continuam preferindo não deixar com o governo o controle sobre a origem do que comem.

Mudança de hábito

Dados da UBA (União Brasileira de Avicultura) indicam que o consumo de frango no Brasil aumentou 60% nos últimos 10 anos, ultrapassando 35 kg por habitante em 2005. Nesse período, inovações tecnológicas diminuíram o tempo e a quantidade de alimentos necessários para a engorda, barateando o produto.

O Brasil também é hoje o maior exportador de frango do mundo. A atividade gerou em 2005 uma receita cambial correspondente a US$ 3,5 bilhões, segundo a UBA. De acordo com o veterinário e vice-presidente da entidade, Ariel Mendes, o frango para exportação gera 4 milhões de empregos, entre os quais os de pequenos granjeiros integrados a frigoríficos.

Mendes defende o fechamento das avícolas, que considera um risco em potencial para a saúde e para as exportações do país. Ele estima que 90% do frango consumido no Brasil tenha hoje origem industrial. Segundo o veterinário, o fim da atividade é uma questão de tempo. 'Os hábitos estão mudando', afirma.





Fonte: Folha Online

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