Legacy estava sem contato com a torre de controle
Apesar de terem dito que houve apenas um leve impacto com a outra aeronave, os dois tripulantes do Legacy 600 adquirido pela empresa de táxi-aéreo americana Excel Aire descreveram o barulho provocado pela colisão como semelhante a "uma batida de carro".
De acordo com o co-piloto, dez minutos após a decolagem (14h17, horário de Brasília), em São José dos Campos (120 km a oeste de São Paulo), eles acionaram o piloto-automático. Para alcançar a altitude de cruzeiro estabelecida no plano de vôo (37 mil pés), levaram cerca de 45 minutos.
Minutos antes do choque, após terem voado por aproximadamente uma hora e meia, o piloto havia ido ao banheiro. No momento em que Lepore estava fora da cabine, a aeronave perdeu contato com o centro de controle de tráfego aéreo de Brasília. Paladino tentava retomar o contato, tendo testado "todas as freqüências constantes na carta de navegação".
O co-piloto disse que chegou a conseguir contato a partir da freqüência 135,9 MHz, mas que perdeu o sinal logo em seguida. Quando estava tentando novamente fazer contato, Lepore voltou do banheiro. Mal o piloto retomou seu lugar, Paladino disse que sentiu uma "onda de choque na cabine". Ele acreditou "que a porta tivesse saído", segundo a transcrição de seu testemunho consultada pela reportagem.
O impacto desarmou o piloto-automático e fez com que o avião pendesse para o lado esquerdo, obrigando Lepore a assumir o controle manual da aeronave. Assim que a estabilizou, pediu a seu co-piloto que assumisse o comando, por ele ter mais experiência e mais horas de vôo naquele tipo de aeronave.
Ainda sem contato com o centro de controle de Brasília, Paladino e Lepore tentaram avisar as autoridades sobre o fato ocorrido por meio da freqüência de emergência (121,5 MHz), mais uma vez sem sucesso.
Chegaram a se comunicar com um avião cargueiro da Polar Air Cargo, que os passou a freqüência da base aérea da Serra do Cachimbo.
Além dos tripulantes, o jatinho transportava cinco passageiros: os sócios da Excel Ralph Anthony Michielli e David Jeffrey Rimmer, os funcionários da Embraer Henry Arthur Yendle e David Bachmann e o jornalista do "New York Times" Joseph Sharkey.
Segundo o piloto e o co-piloto, ao ouvir o barulho, Michielli, um mecânico licenciado pela Agência Federal de Aviação Civil Norte-Americana, viu por uma das escotilhas que a extremidade da asa esquerda e a parte superior da cauda haviam sido avariadas. Orientou, então, os dois tripulantes, a procurar um aeroporto para aterrissar.
Todos eles disseram que não viram o avião da Gol, nem antes nem depois do impacto. No entanto, Yendle contou que percebeu "uma sombra na janela do lado esquerdo, imediatamente sentindo um impacto". Ele disse que não podia precisar o tipo de sombra, "se tinha sido projetada por uma nuvem, aeronave ou outro objeto".
Bachmann afirmou não ter ouvido nenhum ruído "que pudesse caracterizar passagem de outra aeronave, deslocamento de ar ou algo semelhante a uma turbulência provocada por outro avião".
O co-piloto disse que, ao chegar à base aérea da Serra do Cachimbo, perguntou a um funcionário da torre de controle se ele teria ouvido algo a respeito de algum acidente ou mesmo uma possível queda de avião. Ouviu uma resposta negativa.
O piloto disse que só soube do sumiço do avião da Gol "quando estava jantando na base aérea do Cachimbo".
Passaportes
A pedido do Ministério Público de Mato Grosso, a Justiça autorizou que a Polícia Federal retenha os passaportes do piloto e do co-piloto do Legacy 600, para que "eles fiquem no país até que sejam verificadas as informações prestadas por eles".
Comentários