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Educação/Vestibular
Terça - 03 de Outubro de 2006 às 01:13

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O velho e então revolucionário conceito do ciclo básico, notório nos anos 70, está de volta às universidades públicas. Com outra cara, mas com o mesmo caráter humanístico e abrangente de formação. Grandes universidades do País passaram a oferecer nos primeiros anos, independentemente do curso escolhido, aulas de literatura, meio ambiente, psicologia e noções de cidadania.

O novo campus da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em Limeira, já vai nascer com essa proposta. Alunos dos 12 cursos aprovados, entre eles Fisioterapia, Engenharia e Produção Cultural, discutirão ética, gestão e cultura no mundo contemporâneo. Todos terão também disciplinas de informática, lógica e línguas. “O aluno terá uma visão de mundo maior e entenderá seu papel na sociedade”, diz o reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge. Para ele, as universidades perceberam a importância de uma formação menos focada no conhecimento específico. “Um profissional que tem um alicerce mais estabelecido terá inclusive mais facilidade para absorver as especialidades.”

O ciclo básico da Unicamp de Limeira será feito em dois anos, mas o aluno poderá mesclar as disciplinas com outras de caráter profissional, relacionadas ao curso de graduação. Segundo Jorge, apesar da opção pela formação abrangente, não se pode distanciar totalmente o jovem da carreira escolhida, para não desestimulá-lo. O novo campus deve começar a funcionar em 2008.

O reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Naomar Monteiro de Almeida Filho, acredita em outro tipo de ciclo básico. Há cerca de dez dias, ele divulgou seu projeto de acabar com o vestibular na instituição e instituir um curso inicial comum a todos os ingressantes. O projeto ainda precisa ser aprovado pelo conselho universitário, mas prevê um bacharelado interdisciplinar que duraria três anos. Só depois disso os alunos passariam à parte profissionalizante. “Queremos oferecer uma verdadeira formação universitária, com valorização da cultura, do falar e do escrever bem”, diz Almeida Filho.

O reitor acredita que sua proposta vai facilitar a escolha da profissão dos jovens, que hoje é feita por volta dos 17 anos. “Os cursos hoje têm evasão de um terço dos estudantes porque eles percebem que escolheram a carreira errada”, diz. Ele também acredita que o mercado profissional passou a rejeitar os profissionais com formação muito específica. A inspiração da UFBA vem das idéias do educador Anísio Teixeira que, nos anos 30, tentou implementar uma universidade nos mesmos moldes no Rio.

O ciclo básico ganhou força no País, porém, com a lei da reforma universitária de 1968. Ele foi tornado obrigatório pela Ditadura Militar. Contraditoriamente, o maior exemplo desse conceito teve caráter contestador e revolucionário, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) (leia texto acima).

A Universidade de São Paulo (USP) também surgiu em 1934 com uma proposta de formação humanística, a mesma que está sendo agora resgatada no novo campus na zona leste. A USP começou apenas com a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, onde conviviam estudantes de Filosofia, Matemática, Letras, História, Física, Química. Hoje, na USP Leste, alunos dos dez cursos - todos inéditos na instituição, como Gerontologia, Ciências da Atividade Física e Gestão Ambiental - fazem juntos o ciclo básico.

Segundo pesquisas feitas na instituição, o conceito interdisciplinar é aprovado pelos estudantes. A nota dada pelos alunos ao ciclo básico foi de 3,59 (numa escala de 1 a 5). Eles cursam disciplinas como ciências da natureza, arte e cidadania, além de uma formação científica por meio de projetos de resolução de problemas principalmente da comunidade no entorno da USP Leste. “Os trabalhos ficam muito mais ricos com os colegas das outras áreas”, diz Carina Fernandes, de 19 anos. “Há sempre ligação entre as disciplinas gerais e a carreira que escolhemos”,completa Paula Souza, de 19 anos.

A Universidade Federal do ABC, criada neste ano, também oferece um ciclo básico. Todos os estudantes se formarão inicialmente como bacharéis em Ciência e Tecnologia.

A tendência interdisciplinar da educação pode ser notada ainda nas avaliações como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que cobra competências e habilidades em vez de disciplinas, e o vestibular da Fuvest que, neste ano terá 10% da prova multidisciplinar.




Fonte: Agência Estado

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