Imprevisibilidade do segundo turno suscita temor de jogo sujo
O movimento eleitoral dos últimos dias antes do primeiro turno impediu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, fosse reeleito neste domingo. Ele obteve 48,61% dos votos válidos, e enfrentará nas urnas no dia 29 Geraldo Alckmin, do PSDB, que registrou 41,64%.
A pequena distância entre os dois candidatos faz pressagiar uma campanha dura para ambos, e especialmente difícil para Lula, que parece haver entrado em uma trajetória de queda, enquanto o tucano está em ascensão.
O resultado está, em grande medida, nas mãos do eleitorado que votou em outros candidatos, sobretudo Heloísa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT), e das alianças que Lula e Alckmin consigam fazer a partir de agora.
Alguns comentaristas consideram que o segundo turno terá a vantagem de dar tempo para que haja avanços nas investigações sobre a suposta tentativa de compra de um dossiê, por parte de petistas, contra os tucanos Alckmin e José Serra, eleito confortavelmente governador de São Paulo.
Mas os analistas também temem que o confronto se aguce e separe ainda mais um país que demonstrou estar profundamente dividido em função da renda e da educação dos habitantes, além de geograficamente.
Uma incógnita é até que ponto influenciou a ausência de Lula do debate realizado na quinta-feira passada na TV "Globo".
Também não é possível quantificar o impacto exato do escândalo do dossiê, e da divulgação, na véspera das eleições, das fotos com o dinheiro que supostamente seria destinado à compra da documentação falsa.
Seja qual fosse a motivação dos eleitores, o resultado inicia um período de suspense e incerteza, e, sobretudo, quatro semanas de guerra aberta na qual Alckmin tentará, com unhas e dentes, arrebatar o poder de Lula.
As pesquisas apontavam, até agora, Lula como vencedor se enfrentasse o tucano em um segundo turno, mas ninguém dúvida que a oposição atacará o presidente em seu ponto mais fraco: os escândalos de corrupção.
Lula espera que, ao contrário do ocorrido até agora, a campanha do segundo turno se caracterize pelo "debate de idéias e programas", segundo declarações do ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro.
Muitos analistas criticaram justamente a falta de um debate profundo sobre assuntos como a forma de conciliar a estabilidade econômica e a necessidade de um maior crescimento com as enormes necessidades sociais do país, em áreas como saúde ou educação.
Segundo o sociólogo Hélio Jaguaribe, fundador do Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política (Ibesp), a campanha foi "deplorável", por que não se viram "projetos, nem idéias".
Jaguaribe disse à Efe às vésperas das eleições que não há "um único projeto que possa ser apresentado como representativo das necessidades nacionais".
Segundo o sociólogo Emir Sader, um dos fundadores do Fórum Social Mundial e diretor do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), pode haver um agravamento dos conflitos e das denúncias nas próximas semanas.
Isso fará com que "a vitória eleitoral de Lula (no segundo turno) não seja tão certa e, se ele ganhar, vai ganhar com semanas de confrontos muito violentos".
Sader, assim como outros analistas, aponta que "há uma crise institucional possível no horizonte", que pode levar a um enfraquecimento dos partidos e, de alguma forma, do próprio Congresso.
Uma vitória no primeiro turno teria dado a Lula "mais legitimidade e mais prestígio", disse Sader, que afirmou que o segundo torna "mais imprevisível" as conseqüências dessa crise institucional.
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