Delegado que vazou fotos abre investigação paralela
Bruno já estava afastado do caso quando, na última quinta, munido com uma câmera digital, dirigiu-se a uma unidade do Banco Central em São Paulo e à empresa Protege S/A para fazer as fotos das pilhas de dólares e dos reais, respectivamente.
O delegado bateu 23 fotos, em diferentes ângulos, do R$ 1,16 milhão, em cédulas que vão de R$ 10 a R$ 100, e dos US$ 248,8 mil. Depois, gravou as imagens em um CD, que foi entregue a jornalistas em caráter sigiloso --anteontem, o próprio policial assumiu o vazamento.
Aos peritos que, naquele dia, fizeram uma recontagem dos valores, Bruno teria afirmado que havia voltado para a investigação por determinação do comando da PF paulista e tinha autorização para as fotos.
O superintendente da PF em São Paulo, Geraldo Araújo, afirmou ver na atitude de Bruno uma "quebra de confiança".
"Espiãozinho"
Um dia antes de distribuir o CD com 23 fotos coloridas do dinheiro apreendido, numa quarta-feira à noite, Bruno afirmou, em frente à sede da Polícia Federal, que contava com a ajuda de um "espiãozinho" para levantar dados do inquérito que tramita na PF de Cuiabá.
O delegado, no entanto, se recusou a divulgar o nome do suposto colega que o ajudaria na coleta das fotos.
Os petistas dizem que Bruno agiu, às vésperas da disputa eleitoral, para prejudicar a candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a mando dos tucanos. Essa possibilidade, apesar de ser considerada remota pelo superintendente da PF, está sendo investigada.
O delegado afirmou anteontem que não agiu por motivação política. "Isso é absurdo, não tem nada a ver." Disse que votou em Lula em 2002. O policial havia ficado irritado ao ser afastado do caso do dossiê.
Ele prometeu falar hoje em entrevista coletiva sobre os motivos que o levaram a divulgar as imagens, mesmo contrariando a determinação da Polícia Federal de mantê-las em sigilo durante o período eleitoral.
Três dias
O delegado Bruno atuou oficialmente apenas nos três primeiros dias do caso do dossiê. Na sexta, dia 15, ele prendeu o petista Valdebran Padilha e o ex-policial Gedimar Pereira Passos no hotel Ibis Congonhas, em São Paulo. Com os dois, apreendeu R$ 1,7 milhão em reais e em dólares. Na semana passada, tentou voltar à investigação, o que foi vetado.
A divulgação das fotos foi vetada pela cúpula da PF, que temia prejudicar a eleição e a candidatura de Lula à reeleição.
O ex-policial preso trabalhou como segurança em campanhas eleitorais do petista e disse que seu "chefe" era Freud Godoy, ex-assessor especial do presidente. O ex-policial afirmou que estava no hotel a pedido da Executiva Nacional do PT, para atestar a veracidade do dossiê ofertado por Luiz Antonio Vedoin, considerado chefe da máfia dos sanguessugas.
O representante de Vedoin na negociação era Valdebran, que já trabalhou como tesoureiro em campanhas petistas no Mato Grosso.
Além dos documentos, o dossiê era composto por uma entrevista de Vedoin acusando José Serra, que já liderava as pesquisas para o governo de São Paulo, de participação no caso. A revista "IstoÉ" publicou uma entrevista em que Vedoin acusa o tucano de participar do esquema. Depois, ouvido pela PF, ele retirou as acusações.
Comentários