Achados destroços de avião sem sinal de sobreviventes

Mais de 24 horas depois de o vôo 1907 da Gol, com 155 pessoas a bordo, ter deixado Manaus e desaparecido do controle dos radares brasileiros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste sábado que não há indícios de que haja sobreviventes.

"Quero pedir a Deus que os nossos soldados encontrem algum sobrevivente, mas os indícios não são bons", disse Lula a jornalistas no saguão do prédio onde mora em São Bernardo do Campo (SP). Segundo o presidente, as informações foram passadas a ele pelo comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno.

Lula decretou três dias de luto nacional pelas vítimas do acidente com o avião da Gol.

Equipes de resgate enfrentaram dificuldades para chegar à área onde a aeronave acidentou-se, em uma remota região do Mato Grosso. Os trabalhos foram suspensos por volta das 18h, horário local.

"Na Amazônia, à noite, não se enxerga um palmo de mão", disse a jornalistas o brigadeiro Antonio Gomes Leite Filho, representante do comando da aeronáutica.

Apesar disso, segundo o brigadeiro, cinco militares permaneceram acampados no local do acidente, onde pernoitarão. Ainda de acordo com o brigadeiro, não há indícios de explosão no local.

Militares que haviam descido em uma área próxima aos restos do avião começaram a abrir uma clareira na vegetação para helicópteros pousarem, afirmaram em nota, na tarde deste sábado, a Infraero, a Agência Nacional de Avião Civil (Anac) e a Aeronáutica.

"O recolhimento dos corpos será feito por helicóptero para a base aérea de Cachimbo (PA)", disse o brigadeiro. Ele afirmou que as autoridades ainda não têm informações se há sobreviventes, mas admite que essa probabilidade é "muito pequena".

Os destroços do Boeing 737-800 da Gol foram identificados na manhã deste sábado, a 200 quilômetros do município de Peixoto de Azevedo, norte do Mato Grosso, na divisa com o Pará.

O ministro da Defesa, Waldir Pires, disse neste sábado que o acesso ao local é difícil, devido à mata densa. "Estão trabalhando na linha de construir um caminho na mata para chegar ao local. O esforço é chegar lá", disse o ministro por telefone à Reuters, no início da tarde.

De acordo com o secretário de Justiça e Segurança Pública do Mato Grosso, Célio Wilson de Oliveira, a operação de resgate das vítimas poderia demorar três dias. Segundo ele, índios da região colaboraram nos esforços de abrir passagem pela mata.

CHOQUE NO AR

Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Infraero e Aeronáutica ainda investigam, mas não confirmam, se houve choque no ar entre o Boeing da Gol e um jato Legacy, de fabricação brasileira.

De acordo com a Anac, o Legacy pertencia a uma companhia de táxi aéreo norte-americana e partiu de São José dos Campos (SP), onde foi fabricado pela Embraer, com destino a Manaus. Ali, o jato faria uma escala de reabastecimento e passaria pela alfândega, antes de seguir para os Estados Unidos.

O piloto contou à Aeronáutica que viu uma sombra no ar antes do incidente que o obrigou a fazer um pouso forçado. De acordo com informações da Aeronáutica passadas à imprensa pela Infraero, no avião Legacy havia cinco pessoas a bordo —quatro norte-americanos e um brasileiro, que pilotava a aeronave.

O último contato com o avião da Gol, que deixou Manaus às 15h35 de sexta-feira (horário de Brasília), ocorreu às 17h. O vôo 1907 deveria ter pousado às 18h12 em Brasília, antes de seguir para o Rio de Janeiro.

Segundo a Gol, a aeronave era pilotada pelo comandante Décio Chaves Junior, 44 anos. A empresa informou em nota que ele iniciou carreia em 1980, tendo ingressado na Transbrasil em 1986, e trabalhava na Gol desde outubro de 2001. Chaves Junior tem 14.900 horas de vôo, segundo a companhia.

ANGÚSTIA

A Gol informou em entrevista coletiva neste sábado, em São Paulo, que fornecerá aos familiares das vítimas deslocamento para o local do acidente, pagamento de hotéis e eventuais despesas de velório.

Em um hotel de Brasília, familiares e amigos aguardavam ansiosos, desde sexta-feira, notícias sobre os desaparecidos no acidente. "A Gol nos disse que não houve explosão... mas que não podiam dizer se há algum sobrevivente", afirmou Robson Barreto, cujo sobrinho de 29 anos estava no vôo.

O Ministério da Saúde já liberou o translado dos corpos sem toda a burocracia normalmente exigida, informou a Anac. Para o resgate dos corpos, foi montada infra-estrutura na base aérea de Cachimbo, para onde foram deslocados peritos do IML do Mato Grosso.

Em comunicado, neste sábado, a Gol declarou estar "profundamente comovida" com o acidente. A companhia divulgou, na madrugada de sábado, a lista dos passageiros que embarcaram no vôo 1907. A relação está disponível no site www.voegol.com.br.

Se confirmadas as mortes de todas as 155 pessoas no avião da Gol, esse terá sido o pior acidente aéreo já ocorrido no Brasil, superando as 137 mortes registradas na queda de um avião da Vasp no Ceará, em 1982.

Segundo a Gol, a lista de passageiros do vôo 1907 inclui quatro crianças de até 12 anos e um bebê de 11 meses.