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Como a História vai avaliar o PT no poder de 2003 a 2006
A segunda virada, em março de 2006, foi quando Lula mergulhou as mãos no petróleo para comemorar a auto-suficiência da Petrobras. A partir dali o presidente iniciava uma ofensiva para recuperar sua imagem - pouco desgastada, diga-se, apesar dos escândalos envolvendo o PT - entre o povo brasileiro. Divulgaram-se com alarde as notícias na área social. A ação social do atual governo - que despertou uma apaixonada discussão sobre seu teor de "assistencialismo" - explica a popularidade de Lula entre os mais pobres. Em 2006, à medida que a campanha esquentava, o país se via dividido em dois, um que vociferava contra o presidente - e mais ainda contra seus "meninos" metidos em atividades que agridem não apenas os bons modos eleitorais, mas a lei - e outro que votava nele. A reta final das eleições prometia um final emocionante para o filme.
A história de Lula 2003-2006 começa, na verdade, antes do primeiro mandato, num prólogo que poderia receber o título de "A expectativa". Uma parte da população esperava desde 1989 eleger o primeiro presidente operário do país. Aos tradicionais adeptos de Lula - que os institutos de pesquisa diziam ser cerca de 30% da população - juntaram-se outros milhões de brasileiros, que garantiram seu favoritismo desde o começo da campanha. Ao que tudo indicava, depois de três derrotas seguidas em pleitos presidenciais, chegara finalmente a vez de Lula, que encantava a maior parte do eleitorado com sua promessa de um governo transformador, voltado para o social, sob o slogan "A esperança venceu o medo". A vitória iminente atemorizava investidores, operadores do mercado financeiro e uma parcela do empresariado. "O Brasil vai eleger um presidente de quem os mercados não gostam", disse em setembro de 2002 o megainvestidor George Soros.
O temor não era infundado. Em campanhas passadas, o PT brandira propostas que, se aplicadas, levariam o país a um colapso econômico - entre elas, a suspensão do pagamento da dívida externa e a revisão das privatizações realizadas por Fernando Henrique Cardoso. A conjuntura em 2002 também não ajudava. A despeito dos benefícios inegáveis da estabilidade de preços conquistada no começo dos anos 90, o presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, chegou a seu último ano de mandato numa situação extremamente difícil. Além do desgaste político causado pelo apagão de 2001 e pela epidemia da dengue, as crises internacionais ainda não haviam sumido do horizonte e a economia brasileira apresentava números preocupantes: taxa irrisória de crescimento, 1,42% no ano; juros nas alturas, 19%; dívida pública em ascensão, em torno de 56% do Produto Interno Bruto; e enorme dependência externa, com um déficit anual de R$ 23,2 bilhões nas transações correntes.
Com a proximidade do pleito e a consolidação do favoritismo de Lula, o que já era ruim piorou. Um misto de temor real por parte dos investidores com o aquecimento da temperatura política criou um ambiente de especulação exagerada que logo se transformou em forte turbulência econômica. O dólar ultrapassou a barreira dos R$ 4,o risco país bateu seu recorde histórico, acima de 2 mil pontos, e a inflação anualizada superou a marca dos 30%.
Foi nesse clima, no auge da campanha eleitoral, que a cúpula do PT resolveu lançar a famosa Carta ao Povo Brasileiro, um documento de quatro páginas que reafirmava com muita ênfase os compromissos do candidato Lula com a estabilidade econômica, a manutenção do superávit primário pelo tempo que fosse necessário, o respeito aos contratos firmados no governo que estava terminando e a redução da dependência externa. O documento teve uma importância enorme do ponto de vista político. Era a interlocução direta de Lula com o mercado financeiro, cuidado fundamental para acalmar os investidores, reduzir as especulações e fazer uma transição tranqüila.
Confirmada a eleição, veio a fase do alívio, que começa em janeiro de 2003 com a nomeação dos ministros. Um ministério eclético, com ex-sindicalistas, negros, mulheres, acadêmicos, um músico na pasta da Cultura, um empresário no Desenvolvimento, um produtor rural na Agricultura e um militante histórico da esquerda na Reforma Agrária. Do ponto de vista simbólico, dois eventos marcaram o início dessa fase. O primeiro foi a festa de posse, que reuniu milhares de militantes e simpatizantes petistas em Brasília. Lula desfilou triunfante, em carro aberto, no meio do corredor humano formado por pessoas de todos os cantos do Brasil. O evento, descobriu-se depois, fora organizado pelo publicitário Duda Mendonça com dinheiro de caixa dois arrecadado pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares - tristes protagonistas do segundo ato da epopéia petista.
O outro evento marcante foi o tour do time de ministros recém-empossados para "conhecer a miséria de perto", conforme a promessa feita pelo candidato na campanha de 2002. A iniciativa levou quase toda a equipe ministerial para três comunidades extremamente pobres do país: a Vila Irmã Dulce, em Teresina, Piauí; a favela de Brasília Teimosa, no Recife, Pernambuco (hoje urbanizada); e o município de Itinga, no Vale do Jequitinhonha, norte de Minas Gerais.
A ocasião que justificava essa viagem era o lançamento do programa Fome Zero, que, depois de várias críticas, acabaria sendo substituído em outubro do mesmo ano pela estratégia de dar prioridade ao Bolsa-Família. Não foi uma conversão fácil, já que o Fome Zero era uma grife vendida com muita ênfase por Lula desde a posse. A marca Fome Zero ainda é usada hoje pelo governo para designar o conjunto dos programas sociais. Mas o nome que ficou foi Bolsa-Família, que acabaria sendo o grande trunfo do governo Lula na área social.
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