Escolas de lata acabam em São Paulo; "puxadinhos", não
Espécie de "puxadinho escolar", as salas de lata foram construídas no mesmo terreno de escolas de alvenaria para abrigar turmas que não couberam no prédio principal. Hoje, alojam cerca de 7.000 alunos.
Assim como as escolas de lata, esquentam demais no verão e são frias em demasia no inverno. Além disso, são apertadas e muito barulhentas --em dias de chuva, é difícil entender o que o professor fala.
Segundo o secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider, todas as salas de latinha, e também as 16 de madeira, serão substituídas. "Mas escola de lata não existe mais a partir de hoje [ontem].
Restaram algumas salas em unidades com construção normal", disse na inauguração da Emei no Jardim Laranjeiras, em São Mateus (zona leste).
No evento, o prefeito Gilberto Kassab (PFL) disse que cumpriu meta imposta no início da gestão José Serra. "Resgatamos um atraso cometido por gestões anteriores." Serra assumiu em 2005 com 51 escolas de lata e 192 salas de lata.
A assessoria da secretaria de Educação afirma que 120 salas de lata já foram substituídas, mas a Folha apurou que nem todas se transformaram em salas de alvenaria. Em ao menos dois casos, as salas foram demolidas e os alunos fazem todas as atividades no pátio ou na sala de leitura. A Emei (escola municipal de educação infantil) Magdalena Tagliaferro, na zona leste, é uma delas.
Ontem, uma funcionária da escola confirmou que as três classes de lata foram desativadas em julho, mas até agora nenhuma obra de substituição teve início. "Era melhor ter deixado as salas de lata. Agora, as crianças têm de ficar no pátio, mesmo no frio", diz a funcionária, que não quer ser identificada. "A situação está uma tristeza." Os 110 alunos têm de 4 a 6 anos. Quando chove, são reunidos em áreas cobertas.
Outro exemplo é a Emef (escola municipal de ensino fundamental) Raul Pompéia, em Parada de Taipas, zona norte. Segundo funcionários, havia três salas de lata no local. Duas foram substituídas por alvenaria. Restou uma, que foi retirada mesmo sem haver outro espaço para abrigar as crianças.
Por causa disso, os alunos ocupam há 15 dias, de improviso, uma sala de leitura da escola. Os funcionários da escola dizem que a licitação para construir a sala já foi feita, porém ninguém até agora foi ao local para iniciar a obra. Em média, 38 alunos entre 7 e 10 anos ou do supletivo assistem à aula na sala de leitura por vez --há quatro turnos na escola.
"A sala tem uma janela pequena, é super abafada. E as carteiras ficam espremidas entre os livros, que ainda estão ali. O pior é que todos os 2.000 estudantes da escola estão sem aula de leitura", diz uma professora.
A Secretaria de Educação diz, em nota, que a sala de alvenaria que falta na Raul Pompéia "está sendo concluída". "Enquanto isso, os alunos estudam provisoriamente na sala de leitura, cujo acervo está em outra parte da escola. Por enquanto, as atividades de leitura ocorrem nas salas de aula. É uma situação temporária."
Em relação à situação da Magdalena Tagliaferro, diz que os alunos têm atividades lúdicas no pátio. "Isso ocorre em várias escolas e já ocorria quando essas unidades ainda tinham salas de lata. Portanto, não é correto dizer que as atividades ocorrem no pátio porque as salas metálicas foram demolidas e as de alvenaria não ficaram prontas. Aulas em pátio são uma rotina pedagógica."
Problema antigo
Alunos de uma ex-escola de lata, a Emef Jardim Vila Nova, na zona leste, também vivem uma situação improvisada.
Enquanto esperam o CEU Azul da Cor do Mar ficar pronto, em 2007, ocupam salas comerciais na sobreloja de um supermercado --lugar abafado, sem refeitório e área de lazer.
As escolas de lata foram construídas na gestão Celso Pitta (hoje no PTB) para atender emergencialmente a demanda. No mandato de Marta Suplicy (PT), dez foram substituídas.
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