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Agronegócios
Terça - 26 de Setembro de 2006 às 14:52

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Os altos investimentos dos laticínios em 2005 - da ordem de R$ 350 milhões - caíram pela metade neste ano, seguindo o ritmo das exportações, que também tiveram suas projeções reduzidas em 50%, diante de um câmbio que não deixa o produto brasileiro competitivo no mercado internacional.

As principais bacias leiteiras do País - Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná - receberam aportes para a construção ou ampliação de unidades que aumentaram em 30% a capacidade instalada nas plantas de leite em pó e 80% para o leite condensado. Boa parte deste incremento na produção estava destinada ao mercado externo, pois as projeções eram de uma receita cambial de US$ 300 milhões para 2006. Nos últimos cinco anos, a taxa de crescimento médio anual das exportações de lácteos era de 24%. Para 2006, a previsão é de, no máximo, 15%. Com as projeções revistas, o setor espera apenas US$ 150 milhões em vendas externas e amarga prejuízos e capacidade ociosa.

No Paraná, duas cooperativas investiram R$ 22 milhões para aumentar a produção e exportar e acabaram por encerrar as vendas externas, diante da perda de receita em virtude do real valorizado (ver matéria abaixo).

"Está todo mundo decepcionado. Quem está exportando, o faz com prejuízo. Com esse quadro, devem acabar os investimentos", diz Vicente Nogueira Neto, diretor do Departamento Econômico da Confederação Brasileira das Cooperativas de Laticínios (CBCL).

A previsão é que apenas no Sul do País sejam aportados recursos para a ampliação de unidades, em valores que correspondem a 30% a 50% do que foi aplicado no ano passado em todo o País. Segundo o vice-presidente do Conselho Nacional da Indústria de Laticínios (Conil), Cícero de Alencar Hegg, grande parte das indústrias já havia feito os investimentos em 2005, não necessitando ampliá-los agora, e algumas já tinham previsto aplicar os recursos somente em 2006. Apenas no Rio Grande do Sul, três empresas estão investindo atualmente em plantas industriais: a Nestlé, a Embaré e a Cooperativa Central Gaúcha de Leite (CCGL), além das ampliações ocorridas no ano passado, com aportes da Elegê Alimentos, da Cosuel e da Cooperativa Riograndense de Laticínios e Correlatos Ltda (Corlac). Apesar disso, algumas, como a CCGL, já revêem suas estimativas de produção, diante do novo cenário cambial (ver matéria abaixo).

Pelos cálculos de Hegg, com o que foi aplicado no ano passado no parque industrial, o pecuarista poderia aumentar em 20% a produção leiteira, além do pico da safra, que as empresas ainda teriam sobra para a atender a demanda de processamento de lácteos. "Estamos prontos para o Brasil crescer, mas pelo jeito, estamos perdendo o bonde", afirma Hegg.

Pelos cálculos do setor, metade do aumento da capacidade instalada de leite condensado era destinada à exportação e entre 30% a 50% do incremento na produção de leite em pó seria embarcado. "Nossas expectativas para as exportações estão aquém", diz Hegg.

Apesar da aposta nas vendas fora do Brasil, o vice-presidente do Conil diz que os investimentos também comportam o mercado interno, pois atualmente o consumo per capta de leite é de apenas 134 litros por ano, enquanto em outros países chega a 200 litros por ano. "Temos de ter um mercado interno forte para conseguirmos escala e podermos exportar", explica Hegg.

Dos valores aplicados no ano passado, a maior parte veio da Itambé: R$ 270 milhões em duas fábricas, em Uberlândia (MG) e Goiânia (GO), para leite em pó e condensado, sendo 20% do volume destinado às exportações. "Esperamos que no ano que vem a realidade cambial seja outra para revermos o investimento", diz Jacques Gontijo Álvares, vice-presidente da Itambé, referindo-se ao fato de ter ampliado a produção e o mesmo não ter ocorrido com as exportações.

A empresa esperava embarcar para os 40 destinos a que atende o dobro do volume atual, de 2 mil toneladas por mês. "O mercado existe, mas perdemos a competitividade", afirma Álvares. Segundo ele, com o câmbio atual, o leite brasileiro custa US$ 0,24 o litro, enquanto o argentino sai por US$ 0,18. "Nossa matéria-prima ficou cara", argumenta.

Em Goiás, a capacidade instalada aumentou em 10%, com o aporte de R$ 165 milhões - cerca de 65% deste valor destinada a plantas voltadas para o mercado externo. No entanto, mesmo as empresas que ampliaram suas instalações voltadas para o consumo interno, esperavam, futuramente exportar. No estado, além da Itambé, outras três indústrias realizaram investimentos no ano passado.





Fonte: Gazeta Mercantil

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