Joana é tranquila, obediente, brincalhona e procura um parceiro para sua primeira vez. Dois pretendentes apareceram, mas o encontro não deu certo. Um era grande demais. Outro tinha desejo de menos. É uma pena, porque Joana não é qualquer uma. Tem um quarto com sofá só dela e sabe fazer xixi sozinha no ralo. É o que conta Mariane Ferreira Diogo, dona da cadela de quatro anos, da raça basset-hound. Joana é a última cliente de um serviço de “encontro de casais”, oferecido por uma creche para cachorros de Mogi das Cruzes, Região Metropolitana de São Paulo.
A dona de casa ficou sabendo do serviço pelo site do estabelecimento. Mariane entrou em contato com a loja, passou as características de sua fêmea (idade, foto, nome) e a gerente da creche, Glauce Fernandes, foi atrás de um parceiro da mesma raça. No dia do cio de Joana, a dona levou a brincalhona cadela à creche para cães. Pouco depois, chegou Johnny, seu pretendente de dois anos e meio. Mas os parceiros nem sempre são os ideais. “Johnny está muito obeso", conta o adestrador Ricardo Cardoso, funcionário do local.
Um plano B foi acionado. Direto do Distrito de Taiaçupeba foi trazido Toti. O novo pretendente tinha o porte parecido com o de Joana.
Para ficar mais à vontade, os dois foram colocados numa sala vazia onde ficam hospedados os gatos. Exploraram juntos o recinto, cheirando as coisas. O adestrador Ricardo é o verdadeiro cupido do serviço. É ele que tenta aproximar os dois. Em dez minutos do primeiro encontro, Toti cutucou com o nariz os brinquedos dos gatos, tomou uma aguinha e não fez nada além de cheirar a pobre Joana, que estava muito mais interessada nos finalmentes. A certa altura, Toti se deitou preguiçosamente no chão. “Xiii... mas é frouxo mesmo!”, exclamou a frustrada dona de Joana, que assistia da porta o ritual. “Essa raça é difícil mesmo de cruzar. Às vezes precisa de inseminação artificial”, conta o adestrador. O casal foi separado, mas os dois passariam a noite juntos. Se nada acontecesse, um terceiro macho seria chamado no dia seguinte. Joana é uma garota disputada.
Sossegando Indiana Jones
Porém, há muitos casos de sucesso no Cupido Dog, como o serviço é chamado. Indiana Jones é pequeno mas tão intrépido quanto seu xará do cinema. O yorkshire de um ano e nove meses já colocou a dona, a professora Érica Andrade, em situações bem constrangedoras. “Ele agarra a perna das pessoas. Se uma mulher vem em casa com um cheiro diferente, ele gruda na perna mesmo. Passo a maior vergonha”.
Para a dona, o pequeno garanhão precisava desestressar. “Moro em apartamento e ele é bem agitado. Depois do encontro ele voltou tranquilo... Estou até vendo se acho outra fêmea para ele”, brinca Érica. O veterinário Jeferson Renan de Araújo Leite, porém, explica que o cão não fica estressado por falta de sexo. “O macho só vai ficar agitado se estiver ao lado de uma cadela no cio e não puder cruzar. Você pode colocar ele no meio de 20 cadelas fora do cio que ele vai ficar tranquilo.”
Segundo a gerente da creche, Glauce Fernandes, que agenda os encontros, além do “estresse”, os donos buscam os serviços por outras razões. Alguns querem comercializar filhotes, outros acham que é preciso cruzar para evitar doenças, como o câncer. Foi o caso de Mariane. “Trouxe ela para cruzar porque disseram que se não desse cria poderia ter problema, até câncer de útero. Então foi mais pela saúde dela".
Mas especialistas alertam que este é na verdade um mito. "Tem pessoas com aquela ideia antiga de que se o cachorro não cruzar ele vai ter doença. Isso daí é crença, não existe", afirma a veterinária Lilian Tanaka. O outro especialista, Jeferson, concorda e ainda diz que se a intenção é evitar doenças, o melhor é a castração. "Há pesquisas que mostram que se a fêmea for castrada antes do primeiro cio ela tem 90% menos chance de desenvolver tumor nas mamas”, afirma o veterinário.
O porte pequeno de Indiana Jones, mesmo para um yorkshire, foi o que facilitou seu encontro com Poliana, uma fêmea de dois anos e meio. O dono da cadela, por coincidência, é o atual adestrador do local, Ricardo Cardoso. Em agosto do ano passado ele ainda era apenas um cliente quando procurou o Cupido Dog com um objetivo mais pragmático: gerar filhotes para a venda. “Eu queria um macho de porte pequeno porque o pessoal procura o menor york possível na hora de comprar”, explica.
Esta loja não cobra pelo serviço. A única despesa dos donos é com a hospedagem dos cães - cerca de 40 reais -, que costumam ficar dois dias no local. Para Ricardo, o dono da fêmea de yorkshire, o pequeno investimento valeu a pena. O encontro de Poliana com Indiana Jones rendeu uma ninhada de quatro filhotes (dois machos e duas fêmeas) e todos foram vendidos pelo total de R$ 3,6 mil. A dona de Indiana Jones também saiu contente. "O serviço é de confiança e eles selecionam cachorros sadios. Eu acho mais seguro”, opina Érica.
Dois dos filhotes de yorkshire que foram gerados em um dos encontros de casais em Mogi das Cruzes (Foto: Glauce Fernandes)
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