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Economia
Sexta - 22 de Setembro de 2006 às 00:59

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SÃO PAULO - O mercado financeiro começa a temer a possibilidade de um segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), franco favorito nestas eleições presidenciais, ficar paralisado em meio a inúmeros processos de investigação envolvendo membros do governo petista. A análise é de que a governabilidade do presidente ficaria comprometida e, por conseqüência, não seria possível promover reformas como a fiscal e previdenciária, que dependeriam de acordos diretos com o Congresso Nacional.

Até a quarta-feira, dia 20, o mercado vinha acompanhando de longe o cenário instável desencadeado pelo escândalo do dossiê que petistas teriam negociado para prejudicar o candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra. Mas a evolução das investigações, que avançam cada vez mais sobre colaboradores diretos do presidente, deixou analistas e investidores preocupados.

O próprio Banco Central (BC) reconhece que a perspectiva política pode prejudicar o ingresso de investimentos estrangeiros no Brasil. “O investidor sempre olha para o longo prazo e quer estar bem em um País com expectativa de crescimento e estabilidade”, afirmou o chefe do Departamento Econômico (Depec) do BC , Altamir Lopes.

Sinal Amarelo

O primeiro sinal amarelo do mercado acendeu nesta quinta-feira, 21. O risco país disparou 7,02% e atingiu 244 pontos. O dólar subiu 1,47%, para R$ 2,209, o maior nível desde 14 de julho, e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) recuou 1,04%.

Segundo Alessandra Ribeiro, economista da Tendência Consultoria, a grande preocupação não é de curto prazo. "O escândalo tende a dificultar o estabelecimento de acordos entre PT e oposição na aprovação de uma pesada agenda de reformas prevista para a próxima administração”.

Dependendo dos futuros índices de aprovação popular do presidente Lula num eventual segundo mandato, a oposição “poderá usar a ameaça de impeachment” até 2010, observa o economista para América Latina do banco Dresdner Kleinwort, Nuno Camara. “A cada dia que passa, a perspectiva de reformas se torna mais limitada.”

Watergate e baixas

A imagem de uma reeleição fácil e um segundo mandato com crise de governabilidade ficou mais forte com as comparações feitas entre o escândalo do dossiê negociado por petistas e Watergate, o histórico caso de espionagem que, em agosto de 1974, levou à renúncia o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon.

A comparação foi feita pelo próprio presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Aurélio Mello, para quem a negociação do dossiê contra o tucano José Serra e os demais elementos do escândalo configuram um quadro "mais grave" do que Watergate, no qual dois assessores de Nixon mandaram ex-agentes da CIA invadirem o Hotel Watergate em busca de coisas que pudessem comprometer seus adversários do Partido Democrata.

Preocupa aos analistas e atores do mercado o fato de o escândalo do dossiê estar atingindo uma região nevrálgica do poder, perto do presidente Lula e em cheio no PT.

Derrubada A prisão de Valdebran Padilha e Gedimar Passos iniciou uma derrubada de assessores com trânsito livre no Palácio do Planalto e, por fim, abateu o presidente do PT, Ricardo Berzoini, e outras peças-chave da campanha à reeleição de Lula.

A derrubada começou no dia 15, quando em poucas horas o País ficou sabendo de um suposto dossiê contra tucanos veiculado pela revista IstoÉ e, em seguida, assistiu ao desmonte de uma operação para venda do dossiê Vedoin.

A tentativa de associar candidatos do PSDB à máfia das ambulâncias mal repercutia quando Valdebran - empresário filiado ao PT - e Gedimar - advogado e ex-policial - foram presos pela Polícia Federal, com R$ 1,75 milhão. Na noite anterior, Paulo Roberto Trevisan - da família que chefiava o esquema - fora detido em Cuiabá tentando embarcar para São Paulo.



Planalto O próximo arremessado para fora do círculo de poder foi Freud Godoy, ex-assessor e chefe de segurança que gozava de extrema confiança de Lula, a ponto de ganhar uma sala no Palácio do Planalto, perto de onde o presidente despacha e ao lado do espaço reservado à primeira-dama. É suspeito de ter ordenado a compra do dossiê.

Quase simultaneamente, o escândalo envolveu e derrubou Jorge Lorenzetti, outro amigo de Lula, churrasqueiro oficial dos fins de semana na Granja do Torto. Diretor licenciado do Banco do Estado de Santa Catarina, Lorenzetti cuidava da campanha naquele Estado. Juntamente com o ex-secretário do Ministério do Trabalho Oswaldo Bargas, teriam atuado no episódio do dossiê antes mesmo das prisões em São Paulo.

Lorenzetti e Bargas teriam oferecido a mesma denúncia à Revista Época, no dia 6 deste mês. Informavam possuir informações que ligariam o candidato ao governo paulista José Serra e Barjas Negri - ambos tucano e ex-ministros da Saúde - ao esquema de venda de ambulâncias superfaturadas.



PT e BB

O presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, que foi informado da conversa com a revista, balançou forte e perdeu a função de chefe da campanha de Lula.

Também antes das prisões que detonaram o caso, outro personagem entrou em cena. Era Expedito Afonso Veloso, diretor de Gestão de Risco do Banco do Brasil, que tirou férias e viajou para Cuiabá, no dia 11 de setembro.

Lá, tentou convencer Darci e Luiz Antônio Vedoin, pai e filho, que montaram a fraude dos sanguessugas, a denunciar os tucanos à IstoÉ. Reuniu documentos. Acabou, na quarta-feira, afastado do BB, após 20 anos de carreira.

A crise esbarrou, ainda, em Hamilton Lacerda, coordenador de campanha daquele que poderia se beneficiar de um eventual abalo na candidatura Serra - o candidato ao governo paulista pelo PT, Aloizio Mercadante.




Fonte: Agência Estado

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