Protestos contra premiê deixam mais 69 feridos em Budapeste
Os protestos contra o primeiro-ministro Ferenc Gyurcsány reuniram hoje cerca de 10 mil pessoas em uma manifestação pacífica, mas, por volta da meia-noite, um grupo de radicais voltou a recorrer à violência e ao vandalismo, sem fazer reivindicações políticas.
Várias pessoas que tomaram a palavra no palco montado na praça Kossuth, em frente ao Parlamento, pediram aos manifestantes que evitassem repetir os tumultos da noite anterior. Ainda assim, cerca de 500 pessoas tomaram o edifício da rádio pública e da sede do Partido Socialista (MSZP, governante).
Nos últimos dois dias de manifestações, cerca de 220 pessoas ficaram feridas, entre eles vários policiais, alguns em estado grave.
Gyurcsány alertou hoje durante a reunião do gabinete ministerial que "não haverá nenhuma tolerância em relação aos radicais", e acrescentou que os indivíduos que cometem atos violentos não defendem idéias políticas.
O primeiro-ministro húngaro ressaltou que "há ordem em Budapeste e na Hungria, e a Polícia defendeu a população esta noite. Agradeço a eles o que fizeram".
Gyurcsány reiterou que não renunciará, como já havia afirmado na terça-feira, e acrescentou que "continuaremos com nossa tarefa sem dar um passo atrás".
O vice-presidente do Parlamento, o conservador Áder János, do Fidesz - principal partido da oposição -, afirmou hoje à televisão pública que "o Governo de Gyurcsány terá que abandonar o poder".
Também ressaltou que o primeiro-ministro não só mentiu à população durante a campanha eleitoral, mas reagiu às denúncias "de modo cínico e vergonhoso".
Os manifestantes redigiram uma carta enviada hoje a 21 embaixadas credenciadas em Budapeste, na qual exigem a saída do poder do "Governo ilegítimo do Partido Socialista e da Aliança de Democratas Livres em 48 horas".
O objetivo, segundo disseram, é dirigir-se à opinião pública internacional através das representações diplomáticas.
Os signatários da carta também pedem aos representantes parlamentares húngaros que declarem sua desconfiança diante do trabalho do Governo, e chamem os trabalhadores de serviços de segurança e de outras Forças Armadas a se unirem à iniciativa para "bloquear" o trabalho governamental do Executivo.
Na madrugada de hoje, os manifestantes queimaram uma viatura da Polícia e colocaram barricadas com latas de lixo e outros objetos.
Os incidentes continuaram até as 3h45 de hoje (22h45 de ontem em Brasília).
György Lasz, diretor da empresa de segurança privada IN-Kal, que ajudou a Polícia nesta madrugada, disse que 99% dos manifestantes "são extremistas conhecidos, torcedores dos times de futebol de Ferencváros, Ujpest e Debrecen".
Os protestos contra o Executivo social-democrata começaram após a difusão de uma gravação de áudio neste domingo, na qual o chefe de Governo admitiu ter mentido aos eleitores sobre a desastrosa situação econômica do país para ganhar as eleições legislativas de abril.
Os manifestantes exigem a renúncia de Gyurcsány, que na gravação reconhece diante da cúpula do Partido Socialista, em 26 de maio, que "mentimos durante um ano e meio" sobre a crise econômica nacional.
"Fizemos tudo em segredo para que nada fosse publicado antes das eleições", admitiu Gyurcsány na gravação.
Hoje, o Papa Bento XVI expressou sua preocupação pela situação na Hungria e seu desejo de que todas as partes encontrem uma solução "justa e pacífica".
"Com preocupação acompanho as notícias que chegam da Hungria.
Peço ao Senhor que todas as partes encontrem uma solução justa e pacífica", afirmou o Pontífice na saudação dirigida aos húngaros que assistiram à audiência pública das quartas-feiras na Praça de São Pedro.
Falando em húngaro, o Papa encorajou os cidadãos húngaros e pediu a intervenção da religiosa Sara Salkahazi para tentar colocar fim aos conflitos ocorridos durante os protestos contra o primeiro-ministro húngaro.
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