"O papa realmente se desculpou?", questiona jornal
Durante uma visita à Alemanha, na semana passada, o papa havia feito referências ao Islã e à guerra santa, citando palavras de um imperador católico que viveu no tempo das cruzadas católicas contra os países islâmicos.
"O papa diz perdão, mas ele realmente se desculpou?", questiona em sua primeira página o britânico The Daily Telegraph. O jornal destaca as declarações do ministro turco Mehmet Aydin de que o papa deve pedir desculpas de uma maneira mais enfática. "O senhor lamenta ter dito isso ou por causa de suas conseqüências?", disse o ministro.
Em artigo interno, o Telegraph observa que apesar das poucas divergências aparentes entre o estilo de Bento XVI e o de seu antecessor, João Paulo II, o novo papa adotou uma postura muito mais cautelosa em relação à aproximação com o Islã.
"Ele é muito menos entusiasta que seu antecessor de cúpulas entre fés como a que João Paulo II organizou em Assis, as quais os críticos temem que possam borrar as diferenças entre as religiões e diminuir o status do Catolicismo", diz o artigo. "Desde que Bento XVI se tornou o papa, o Vaticano sinalizou com uma linha mais dura em suas negociações com o Islã, enfatizando a necessidade de 'reciprocidade'", observa o texto.
O também britânico The Guardian dedica sua manchete principal ao tema, relatando os protestos no mundo islâmico apesar do pedido de desculpas do papa. Em seu editorial, o jornal observa que "é do interesse do papa mostrar uma maior consciência do contexto político sensível no qual comentários sobre outras religiões são feitos".
O texto diz que "é ainda mais importante que a maioria muçulmana evite se tornar refém de uma minoria de extremistas que quer tornar esse pesaroso drama em uma crise global".
O diário alemão Die Welt argumenta que o ódio no mundo islâmico por causa da citação usada pelo papa não tem razão de ser porque ela apenas expressava "um fato histórico documentado".
O jornal afirma que não é nem provocador nem blasfemo observar que "o Cristianismo, apesar dos abusos, não é essencialmente uma religião de conquista como praticado pessoalmente e com sucesso pelo profeta do Islã".
"As reações histéricas do mundo muçulmano mostram principalmente que há muitas pessoas influentes que aproveitam qualquer oportunidade para iniciar um choque de culturas", diz o jornal.
O espanhol El Mundo, da Espanha, compara o episódio ao das charges dinamarquesas de Maomé e defende a liberdade de expressão do papa. "O papa não precisa se desculpar por expressar uma opinião", diz o jornal. "Ele defendeu uma idéia com a qual nós concordamos totalmente: tolerância."
O também alemão Frankfurter Rundschau, porém, diz que as declarações de Bento XVI foram equivocadas. "Um papa não é um especialista que pode filosofar por si próprio sem considerar suas conseqüências", argumenta o diário. "Ele precisa se colocar no lugar daqueles ouvintes que se sentem humilhados pelo Ocidente."
O francês Libération, por sua vez, ironiza o pedido de desculpas do papa. "Não há nada pior para um papa infalível do que cometer um erro", diz o diário. O jornal admite, porém, que suas palavras foram retiradas do contexto e que muitos regimes árabes estimularão a cólera popular para controlar seus opositores islâmicos.
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