Médicos criticam "conivência" britânica sobre Guantánamo
Cento e vinte profissionais assinam a carta na qual se reivindica uma investigação independente para determinar as necessidades médicas dos detidos na base americana em território cubano.
Ao mesmo tempo, os médicos criticam a "vergonhosa" negativa do Ministério de Assuntos Exteriores em responder a uma solicitação da Associação Médica Britânica de enviar para Guantánamo uma equipe de doutores.
Nove cidadãos britânicos conseguiram sair de Guantánamo desde 2004, mas acredita-se que há pelo menos oito residentes no Reino Unido que estão há aproximadamente quatro anos presos e em uma espécie de limbo legal.
Em sua carta, os médicos britânicos qualificam de "moralmente repugnante" que o Ministério de Assuntos Exteriores e da Commonwealth tenham lavado as mãos no tema desses detidos, porque são "residentes" no Reino Unido e não têm passaporte britânico.
"Está clara a urgência que os detidos sejam examinados por médicos independentes e não adscritos ao Exército americano. O silêncio do Ministério de Exteriores é vergonhoso e reflete a conivência deste país com um crime de guerra", diz a carta.
Um porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores assinalou, em resposta a essas acusações, que o Reino Unido tem por política não oferecer serviços consulares a que não têm a cidadania britânica.
O porta-voz acrescentou que funcionários do Ministério se reuniram com familiares dos detidos em Guantánamo e que o Governo britânico considera "inaceitável" a existência desse centro de detenção, que, na opinião de Londres, deveria ser fechado.
A Associação Médica Britânica se interessou pelos detidos por causa de um relatório do Comitê das Nações Unidas sobre as Torturas cujos autores chegaram à conclusão de que em Guantánamo se utilizavam técnicas de interrogatório proibidas pelas convenções internacionais contra a tortura.
David Nicholl, neurologista do City Hospital de Birmingham, que coordenou a carta, assinalou ao "The Times" que muitos médicos estão "indignados pela impiedade do Governo" e pela diferenciação que faz este sobre "cidadãos" e "residentes".
Segundo a Anistia Internacional, atualmente se encontram em Guantánamo cerca 460 detentos de 35 países, e embora alguns deles estejam presos há quatro anos e meio, a sua maioria deles não foi acusada de nenhum delito concreto.
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