Cúpula mundial na ONU analisa fenômeno das migrações
Durante dois dias, mais de cem ministros e representantes de Governos de todo o mundo discutirão formas de obter o maior benefício possível dos movimentos migratórios e reduzir os prejuízos por eles causados.
"Cada um de nós tem uma peça do quebra-cabeças migratório, mas ninguém tem a imagem completa. É hora de juntar as peças", disse o secretário-geral da ONU, Kofi Annan.
A ONU está consciente da dimensão do fenômeno mundial que mantém 191 milhões de pessoas fora de seus países de origem, dos quais cerca de 115 milhões vivem em países desenvolvidos e aproximadamente 75 milhões em regiões em desenvolvimento.
A migração é um fenômeno que beneficia ambos os lados, pois os países dos emigrados recebem remessas significativas de dinheiro, enquanto os países de destino se beneficiam com a chegada de mão-de-obra de baixo custo.
O último relatório das Nações Unidas sobre migrações cita o exemplo de Espanha, Irlanda e Coréia do Sul, nações que, no passado, deram origem a fluxos migratórios, e que hoje, por desfrutarem de economias sólidas, acolhem muitos trabalhadores de outros países.
As remessas são o benefício mais imediato e palpável das migrações internacionais. O volume de dinheiro enviado por emigrados a seus países de origem duplicou na última década, e alcançou os US$ 232 bilhões em 2005, segundo o Banco Mundial.
Este dinheiro é importante para muitos países, como a Índia, China e México que, junto com a França, recebem um terço das remessas enviadas no mundo.
Em nações pobres como o Haiti, Bósnia-Herzegóvina, Lesoto, Moldávia e Tonga, estas receitas representam mais de 20% do Produto Interno Bruto.
Durante décadas, afirma a ONU, havia a esperança de que os lares que recebiam o dinheiro investissem essas receitas de maneira produtiva e gerassem novas possibilidades de renda em seus países.
Entretanto, estudos demonstraram que isso não acontece, e a maior parte do dinheiro é destinado ao consumo.
No entanto, boa parte da renda é empregada em despesas com saúde e educação. Sendo assim, estes fundos têm um efeito benéfico para o capital humano dos países de origem dos emigrados.
A ONU alerta em seu último relatório para outro grande perigo que acompanha o fenômeno migratório, que é a evasão da mão-de-obra formada e qualificada dos países em desenvolvimento.
Os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), por exemplo, abrigavam 20 milhões de emigrantes altamente qualificados no ano 2000, 46% a mais do que 10 anos antes.
Mais da metade desses trabalhadores vinha de países em desenvolvimento.
Existe a teoria de que a saída dos trabalhadores mais qualificados dos países pode estimular seus compatriotas a melhorar sua formação, em uma tentativa de partir também para o estrangeiro.
No entanto, a ONU diz que a saída de trabalhadores qualificados tem conseqüências negativas para muitos países pobres, especialmente na África.
Entre 33% e 55% das pessoas com altos níveis de instrução de Angola, Burundi, Gana, Quênia, Moçambique, Serra Leoa e Tanzânia vivem em países da OCDE. No Haiti ou Trinidad e Tobago, esta porcentagem chega a 60%.
Um caso "especialmente preocupante", alerta a ONU, é o dos trabalhadores da área de saúde, um dos grupos mais dispostos a emigrar, como na África Subsaariana, onde um em cada quatro parte para um país desenvolvido em busca de emprego.
Na cúpula, que começa nesta quinta-feira, a ONU estimulará os países a adotarem medidas que favoreçam a "recuperação de cérebros", ou seja, o retorno dos empregados qualificados que abandonaram seus países de origem.
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