Papa chama muçulmanos ao diálogo e critica "guerras santas"
Em palestra na Universidade de Regensburg, onde lecionou teologia entre 1969 e 1977, Bento 16 disse que o Cristianismo está estreitamente ligado à razão, em oposição aos que tentam espalhar a fé pela espada.
O pontífice de 79 anos evitou críticas diretas ao Islã, embalando seus comentários em uma conferência acadêmica altamente complexa, com referências que iam do antigo pensamento grego e judaico à teologia protestante e ao ateísmo moderno.
O papa citou, entre outros, o imperador bizantino Manuel 2o. Paleologos, do século 14, segundo quem Maomé havia trazido coisas "apenas más e desumanas, como sua ordem para difundir pela espada a palavra da fé que ele pregava".
Usando os termos "jihad" e "guerra santa", Bento 16 acrescentou que "a violência é incompatível com a natureza de Deus e a natureza da alma".
Ele citou várias vezes o argumento do imperador Manuel, segundo o qual difundir a fé com violência é ilógico, e que agir sem lógica é agir contra a natureza de Deus.
No final da palestra, ele voltou a citar Manuel: "É para este grande ''logos'' [razão, em grego], para essa amplidão da razão que convidamos nossos parceiros no diálogo das culturas".
O porta-voz do papa, padre Federico Lombardi, disse que Bento 16 usou as opiniões do imperador Manuel sobre o Islã apenas para ajudá-lo a explicar a questão, e não para condenar toda a religião muçulmana como violenta.
"É apenas um exemplo. Sabemos que dentro do Islã há muitas posições diferentes, violentas e não-violentas. O papa não quer dar uma interpretação do Islã como violento".
Na semana passada, Bento 16 disse que ninguém tem o direito de usar a religião para justificar o terrorismo e propôs um maior diálogo inter-religioso para evitar o ciclo de ódio e vingança contamine as futuras gerações.
Na segunda-feira, quinto aniversário dos atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA, ele rezou pelas vítimas daquele ataque.
Na manhã de terça-feira, em missa campal, ele disse a cerca de 260.000 fiéis que os cristãos devem acreditar num Deus amoroso, cujo nome não pode ser usado para justificar o ódio e o fanatismo. Os organizadores esperavam a presença de 350.000 pessoas.
Regensburg é uma cidade medieval para onde o pontífice pretendia voltar caso se aposentasse no Vaticano, para escrever um último grande trabalho teológico.
O então cardeal Joseph Ratzinger pediu duas vezes a seu antecessor, João Paulo 2o., para se aposentar da chefia doutrinária do Vaticano. O papa anterior rejeitou ambos os pedidos. Na terça-feira, usando o nome Bento 16, Ratzinger se disse emocionado por voltar outra vez à universidade.
Como teólogo, ele sempre traçou uma distinção clara entre o Catolicismo e outros credos. Na conferência de terça-feira, também pareceu criticar as igrejas protestantes e os teólogos contemporâneos do Terceiro Mundo por não salientarem com clareza suficiente a relação entre fé e razão.
Segundo ele, sua crítica ao raciocínio empírico moderno "não tem nada a ver com fazer o relógio voltar no tempo, para antes do Iluminismo, e rejeitar as visões da idade moderna". "A intenção aqui não é de minimizar ou fazer uma crítica negativa, mas de ampliar o nosso conceito de razão e sua aplicação," afirmou.
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