Reunião do G20 termina sem data para relançamento de Doha
A União Européia voltou a culpar os Estados Unidos pela falta de avanço na redução dos subsídios agrícolas domésticos, enquanto os americanos reafirmaram que a oferta apresentada no ano passado é “muito ambiciosa” e que uma rodada bem sucedida “depende de todo mundo”. Ao mesmo tempo, todos se disseram dispostos a ser mais flexíveis.
“Se os Estados Unidos não vierem com uma proposta de corte nos seus subsídios que distorcem o comércio, não se pode esperar que os outros negociadores tragam maior flexibilidade em suas propostas. O próximo movimento é deles (Estados Unidos)”, disse Mandelson à BBC.
Mandelson fez um discurso duro na reunião do G20, culpando os Estados Unidos por não oferecer uma redução de subsídios maior.
Mas a representante de Comércio americana, Susan Schwab, disse que “não ouviu” as críticas de Mandelson, e afirmou que “nenhum país deveria ser responsabilizado” pela paralisação nas negociações. “Lamy deixou muito claro que todos são culpados, não é só um país”, afirmou em entrevista a jornalistas estrangeiros.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que o simples fato de reunir tantos ministros interessados em discutir a retomada das negociações tornou a reunião do Rio um sucesso. “O fato de estarem todos aqui é um sinal de engajamento”, afirmou.
Para Amorim, houve um avanço na reunião deste fim de semana e todos os envolvidos na negociação mostraram flexibilidade.
Ele também ressaltou que não se esperava mesmo uma negociação com detalhes e novas ofertas. “Não se pode ir para um jogo de futebol esperando um resultado de críquete", disse.
Acidente
O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, definiu a reunião de julho em Genebra, quando as negociações ficaram paralisadas, como “um sério acidente”.
A partir de então, esta foi a linguagem adotada por todos os que falaram na entrevista coletiva deste domingo à tarde.
Para recolocar o processo de negociação nos trilhos, Lamy defendeu uma nova fase de discussão técnica em Genebra antes que as negociações sejam relançadas.
“Temos um objetivo comum de abertura, mas para atingir isso é preciso antes um trabalho técnico de preparação”, afirmou.
Eleição nos Estados Unidos
A “janela de oportunidade” para que as negociações sejam retomadas com sucesso, segundo ele, vai até meados de março do ano que vem - depois disso, já seria tarde demais para se conseguir um acordo. Mas Lamy não espera que elas sejam retomadas de verdade antes das eleições de novembro para o Congresso americano.
A dificuldade de se conseguir uma melhoria na proposta dos Estados Unidos durante o período eleitoral no país foi mencionada por representantes de vários países e negada por Susan Schwab.
Mandelson disse que era “óbvio” que a negociação na OMC estava sendo influenciada pela eleição. “Quando estão envolvidos num processo eleitoral, as pessoas ficam mais avessas a riscos”, disse ele.
Susan Schwab afirmou que as eleições em seu país não influenciam a disposição do governo de negociar uma rodada “que seja realmente de desenvolvimento” e ofereça aberturas em agricultura, produtos e serviços.
“Não acho que a negociação está travada, mas a capacidade negociadora (dos Estados Unidos) aumenta depois do período eleitoral”, afirmou Amorim.
O governo americano tem outro complicador no Trade Promotion Authority (TPA), organismo que permite ao Congresso apenas aprovar ou rejeitar acordos negociados pelo Executivo, sem modificações.
A representante americana disse que, para que um eventual acordo na OMC fosse aprovado dentro do TPA atual, que vence em julho do ano que vem, as negociações teriam que ter sido concluídas até julho deste ano.
“Infelizmento não conseguimos. Mas se tivermos um acordo na OMC temos mais chances de renovar o TPA”, afirmou.
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